Porque é que sou feminista

Todos os dias, quando eu saía para a escola, pensava: vou encontrá-la morta quando chegar a casa.

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Porque é que sou feminista desde os oito ou nove anos?

Tem que ver com os direitos mais básicos das crianças.

Deixem-me explicar…

A minha mãe nasceu em Nova Iorque em 1916, filha de imigrantes judeus. Obteve um mestrado em Bioquímica.

Imagine-se uma mulher judia a tentar conseguir emprego como cientista em 1938! Mas um laboratório no Hospital de Harlem apostou nela. Estudou tuberculose e publicou artigos científicos. Os seus olhos brilhavam sempre que se falava de química.

Casou-se com o meu pai em 1942. Infelizmente, descobriu que ele era um homem emocionalmente violento. Minou constantemente a sua confiança.

Depois de o meu irmão mais velho nascer, em 1946, a minha mãe parou de trabalhar. Era o que o meu pai queria. Esta decisão tornou-se a tragédia da sua vida. Perdeu o rumo – o seu propósito.

Esperava que ter mais filhos a realizasse, mas isso não aconteceu. O meu irmão Jerry nasceu em 1954 e eu em 1956.

A minha mãe ficou profundamente deprimida. A sua única saída era a leitura. Achava que os romancistas eram mais importantes do que os primeiros-ministros e os presidentes – Proust, Faulker, Stendhal, e muitos outros. E, muito mais tarde, o seu filho mais jovem.

Quando eu tinha oito ou nove anos, ela parou de se vestir. E quase nunca saía de casa. Só lia.

Eu fui a única pessoa da família que a encorajou. Infelizmente, os meus irmãos interiorizaram o desprezo do meu pai.

Todos os dias, quando eu saía para a escola, pensava: vou encontrá-la morta quando chegar a casa. Ela terá tirado a sua própria vida.

Anos depois, confessou-me que a minha intuição estava certa – frequentemente tinha pensamentos suicidas.

Garanto-lhes que os pensamentos suicidas de uma mãe têm um efeito prejudicial e duradouro sobre os filhos.

Felizmente, a partir da década de 1980, a minha mãe recuperou uma boa parte da confiança. E teve momentos maravilhosos comigo e com o Alexandre, o meu marido.

Sim, sou feminista por causa da minha mãe – porque todas as mulheres merecem ser apoiadas e encorajadas pelos seus namorados, maridos e filhos. Ninguém deveria ver a sua confiança constantemente minada, as suas alegrias ridicularizadas.

Mas também sou feminista por causa das crianças. Quase nunca ouço falar sobre esse aspeto do feminismo, o que acho estranho e dececionante. Porque todas as crianças merecem crescer com mães confiantes e seguras. Com mães que têm a vida que realmente desejam.

Sou feminista porque acredito que todas as crianças têm o direito absoluto de crescer amadas e livres de medo.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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