Rui Rocha e a arte de esbanjar a oportunidade de marcar o dia

Falta um dia para a campanha acabar e as sondagens ainda colocam a IL aquém da meta estabelecida. Esta quinta-feira, como nunca antes, Rocha teve oportunidade de marcar o dia — optou por não fazê-lo.

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Rui Rocha, líder da IL LUSA/JOSÉ COELHO
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Então foi assim: a comitiva da IL estava azulinha como é numa praceta perto da Rua de Santa Catarina, no Porto, a cantar as suas canções e a dar os seus pulinhos. Não ao longe, mas ao perto, começa a ver-se chegar um laranjal de gente com tarjas bonitas e vistosas. A proximidade das comitivas da IL e da AD era tal que os jornalistas de uma e outra campanha já se misturavam.

O momento para o grande encontro com Montenegro estava criado. Os eleitores de direita estavam famintos para jantá-lo na televisão, a assessoria de Rocha de certeza que o tinha preparado e por certo que o criativo Rocha tinha uma frase perfeita para lhe dizer.

O contraste que o azul e o laranja fariam, os cânticos que se misturariam, o céu que se começaria a abrir — marcar o penúltimo dia das eleições deixava de ser uma possibilidade: passaria a inevitabilidade. Uma tirada com graça, uma mãozada enérgica ou uma imagem dos dois juntos: era impossível Rocha não ir lá.

Por alguma razão, não foi e abandonou o local antes de a AD lá chegar. Ou seja, evitou o encontro. Questionado sobre por que o fez, lançou o spin: “Temos caminhos diferentes [da AD] e decidimos mesmo ter um caminho diferente, apresentar um caminho diferente aos portugueses.”

No penúltimo dia de campanha, Rocha teve finalmente a oportunidade de abrir os céus e sentir o calor do sol na cara, mas preferiu ficar na sombra que já conhece. Moveu-o o mesmo espírito que levou o partido a ir sozinho a eleições: fazer “diferente”, mostrar que a IL tem o próprio “caminho” e que não anda à boleia de ninguém. Só que isso já foi feito nos 11 dias anteriores.

Se concretizados, os números da mais recente sondagem do PÚBLICO e RTP traduzem-se numa derrota para a IL, que poderá perder dois deputados e nunca poderá chegar à meta a que se comprometeu (crescer 50%, eleger mais quatro deputados). Na recta final da campanha, Rui Rocha não larga mão da crítica ao voto útil — porventura esquecendo-se que, ao mesmo tempo que o critica, também lembra os eleitores da sua existência.

O penúltimo dia da campanha da IL começou em Braga com uma reunião com empresários e uma curta arruada. Depois, visitou o hospital da cidade e foi para o Porto. Amanhã, tal como a AD, passa a tarde em Lisboa, mas as agendas dos líderes não coincidem. Há comboios que só passam uma vez: e o de poder marcar um dia da campanha parece não ter mais viagens.

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Em Braga, Rui Rocha entrou numa loja de óculos LUSA
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