Mais racionalidade colaborativa na política

O uso da linguagem desportiva e competitiva tem prejudicado a capacidade de efectivamente convergir nas políticas. A irracionalidade clubística, transferida para as práticas políticas, é problemática.

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Megafone P3: Mais racionalidade colaborativa na política Pedro Pina - RTP
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A prática política em Portugal é marcada pela competição. Fala-se em combates políticos, em vencedores e outros adjectivos que fortalecem o conflito e minam as abordagens colaborativas. Todos os partidos, incluindo a direita, assumem uma abordagem marxista combativa, da luta directa e do "tudo ou nada" sem admitirem adaptação e cooperação. Se pensarmos noutras dimensões da nossa vida colectiva, esta abordagem é estranha e disfuncional.

A capacidade de competir e superar as adversidades dos ambientes continua a ser importante. Mas foi a cooperação e organização social que nos permitiu prosperar. As comunidades mais cooperativas foram as que mais se desenvolveram. Obviamente que a liderança, mobilização e estruturação das funções sociais perante ameaças externas influenciaram. Na nossa vida contemporânea estamos constantemente a cooperar, a negociar e chegar a consensos. Fazemos isso na vida familiar, vida amorosa, no trabalho e com a nossa comunidade local de forma natural. Todos temos diferentes interesses e prioridades. Ainda assim, ninguém espera que nestas relações sociais apenas uma visão prevaleça. Somos, naturalmente, levados à adaptação e negociação mesmo quando existem diferenças de poder e conhecimento. O resultado da colaboração é, invariavelmente, melhor. São muitos os casos de filhos que ajudam os pais a mudar comportamentos e vizinhos que implementam projectos impactantes na sua comunidade. Podíamos referir imensos casos de cooperação, dos mais simples aos mais complexos, incluindo as relações mais emocionais. A partilha, compreensão e empatia face ao que é diferente garante consensos e as bases da prosperidade social.

Falar de vencedores absolutos em sistemas políticos plurais como o nosso é absurdo, mesmo quando se obtém a maioria dos votos. O uso da linguagem desportiva e competitiva tem prejudicado a capacidade de efectivamente convergir nas políticas. A irracionalidade clubística, transferida para as práticas políticas, é problemática. A acção política não é uma simulação combativa semelhante a um jogo ou desporto, nem consiste em estabelecer uma tabela e progressão de vencedores e vencidos. Essa atitude é pouco útil para a nossa governação social. Se a política fosse um jogo, deveria ser um jogo cooperativo em que todos tentamos lutar contra as adversidades da vida. Se alguém perder, deveríamos perder todos.

Os partidos tentam entrar nesta abordagem clubística para se diferenciarem e chegarem aos eleitores. Os media seguem e reforçam esta atitude, usando gírias desportivas para cativar audiências. Mas é o próprio acto de governar que sai prejudicado. Mesmo com posições antagónicas, é possível criar uma base de entendimento para muitos assuntos. Ir à razão do problema pode ser mais útil do que simplesmente atacar ou defender uma proposta, pois essa é apenas uma entre muitas soluções possíveis. Quando somos confrontados com extremos, esta atitude é ainda mais importante. Por vezes, a origem e os fundamentos que levam a posições aguerridas antagónicas são exactamente os mesmos.

Por isso precisamos de mais racionalidade colaborativa na política. De disponibilidade para adaptar e mudar e implementar métodos para isso acontecer de facto. Assumir princípios diferenciadores não reduz em nada a originalidade e identidade política. Parece vigorar o medo da abertura e capacidade de negociar, como sinónimos de insegurança e falta de convicções. A culpa disto é também dos eleitores, pois reforçamos a atitude de combate e em vez da colaboração. Focamo-nos mais no espectáculo político e em estar do lado vencedor, ainda que no fundo estejamos a perder porque não conseguimos incentivar à colaboração que poderia gerar uma melhor governação.

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