A liderança em Portugal

Acredito que a liderança democrática é, de longe, a melhor para utilizar seja em que situação for

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Teddy Kelley/Unsplash

Comecemos por uma afirmação: precisamos de aulas de liderança nas escolas portuguesas. Temos falta de cultura de liderança, provavelmente graças aos anos todos em que o País viveu debaixo duma ditadura autocrática que incutia freneticamente a disciplina e a obediência como os valores mais importantes do ser humano.

Quem nunca teve ou ouviu falar do patrão que passa o dia a gritar com os trabalhadores? Ou o chefe que é tão boa pessoa e tão permissivo que os trabalhadores fazem o que querem dele, prejudicando a empresa? Ou o patrão que é terrível a gerir recursos humanos e despede ilegalmente um trabalhador, a quem a empresa tem, posteriormente e por decisão judicial, de pagar uma boa indemnização?

Na verdade, isto tem a sua parte de subjetividade e aquilo que é um exemplo de boa liderança para mim, pode não o ser para outra pessoa. Em todo o lado no mundo há diferentes tipos de liderança mas a verdade é que, estatisticamente, há algumas que têm melhores resultados a longo prazo e é isso que a maioria das pessoas, empresas ou projetos desejam.

Em termos que os Portugueses adoram (eu incluído), a liderança de Rui Vitória não é minimamente parecida com a de Jorge Jesus, certo?

Há a Liderança Laissez-Faire, aquele chefe mega porreiro para toda a gente e muito pouco exigente, aquele chefe para quem está sempre tudo bem e para quem todos os colaboradores estão sempre a cumprir exemplarmente com as suas funções. Este tipo de liderança pode funcionar mas é necessário ter muita sorte (ou muito cuidado) com o recrutamento dos colaboradores, visto que estes têm que ser altamente apaixonados pelo projeto e bastante autónomos no processo de tomada de decisão. Este tipo de líder é excelente nas relações interpessoais mas pode ser prejudicial à empresa por falta de supervisão e de exigência ou ambição.

Temos também a Liderança Autocrática, aquela que concentra em si todos os poderes de decisão sobre todos os assuntos. Este é o líder que impõe a sua vontade a todos os seus trabalhadores, independentemente da opinião dos mesmos e que vê como uma afronta se alguém questiona as suas decisões. Este estilo de liderança é bom para trabalhadores que necessitam de muita supervisão, no entanto, é um estilo que é altamente desgastante para todos, incluindo para quem o impõe, e que normalmente, a longo prazo, deteriora as ligações dos trabalhadores à empresa e o seu amor à causa, o que inevitavelmente põe em causa a sua produtividade e o seu interesse.

Depois há a Liderança Participativa ou Colaborativa. Há quem também se refira a ela como a Liderança Democrática. Aqui o líder valoriza, acima de tudo, os inputs dos membros da sua equipa e deseja que os colaboradores digam o que pensam e que a sua opinião tenha influência no processo de tomada de decisão. Este tipo de liderança, embora normalmente não facilite a tomada rápida de decisão, tem a grande vantagem de ter os colaboradores altamente motivados na maioria dos momentos, o que por si só é uma vantagem e se vai notar na produtividade dos mesmos.

Claro está que estes não são os únicos tipos de liderança porque as pessoas são todas diferentes e algumas ficam a meio caminho entre estes modelos, enquanto outras os levam ao extremo absoluto.

Pessoalmente, acredito que a liderança democrática é, de longe, a melhor para utilizar seja em que situação for. Não raras vezes, a autocrática também funciona na obtenção de objetivos a curto prazo mas é a longo prazo que se torna pesada e difícil de suportar. Em Portugal a falta de cultura de liderança leva a que a liderança autocrática seja, de longe, a mais utilizada.

Por isso, proponho que a escola pública crie a disciplina de Liderança, onde se estude, entre outras coisas, as tipologias de líder, as formas de encarar os problemas do dia-a-dia de um líder, boas práticas e formas de melhorar os índices de motivação dos colaboradores - o verdadeiro motivo de existência de um líder.

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