Casal de ucraniano e russa votou pela 1.ª vez em Portugal: “O nosso voto pode ajudar o país”

Em Lisboa, milhares de eleitores votaram antecipadamente, incluindo Marcelo. Houve quem o fizesse para evitar filas no dia oficial ou porque não estará em Portugal a 10 de Março. E houve estreias.

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A russa Ekaterina Ladygina e o ucraniano Denys Pankovets conheceram-se em Portugal e votaram agora pela primeira vez para umas eleições desde que têm também nacionalidade portuguesa Nuno Ferreira Santos
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Esta foi uma estreia para o casal Denys Pankovets e Ekaterina Ladygina: neste domingo, ele, ucraniano, e ela, russa, votaram pela primeira vez numas eleições legislativas em Portugal. “Foi um momento importante”, diz Denys, de sorriso no rosto, logo depois de ter votado. “Temos a sensação de que o nosso voto pode ajudar o país.”

Ambos têm 31 anos e conheceram-se há 14 em Portugal. Esta foi a primeira vez que votaram para eleições no país desde que têm nacionalidade portuguesa. A votação antecipada foi a opção ideal para que conseguissem fazê-lo lado a lado, isto porque, na Cidade Universitária, em Lisboa, era possível que votassem pessoas de todo o território nacional. Se optassem pelo dia oficial, no próximo domingo (10 de Março), Denys teria de ir a Loures e Ekaterina a Setúbal. “Viemos hoje porque assim deu para virmos juntos”, diz Ekaterina sobre o momento.

Embora sinta que os candidatos não tenham praticamente falado de um tema que muito lhe diz – a guerra na Ucrânia, Denys refere que até compreende: “Portugal tem também muitos problemas para resolver.” Nos últimos dias, o casal português de origem ucraniana e russa esteve atento à campanha e a analisá-la. Por isso, Ekaterina realça que se sentiu mais do que preparada para votar.

Esta também foi uma estreia para Diogo Graciano, que tem 18 anos e votou pela primeira vez numas eleições. “Não ligava muito à política, mas agora que vim votar fiquei muito mais interessado”, conta. Uma das suas grandes ambições é a de que Portugal seja “um país de futuro para os jovens” e a habitação está entre as suas preocupações.

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Diogo Graciano tem 18 anos e votou pela primeira vez Nuno Ferreira Santos
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Diogo votou antecipadamente porque não o conseguia fazer no dia oficial, a 10 de Março Nuno Ferreira Santos

Diogo veio com a sua mãe, Sofia Gouveia, votar antecipadamente porque não conseguia vir na próxima semana. “Foi bom e nem apanhei filas”, resume. Bem perto, a mãe tira-lhe algumas fotografias. “É um marco de vida quando se pode começar a votar e ter poder de decisão”, afirma Sofia Gouveia, referindo que o processo na Cidade Universitária foi fácil, sem filas, com excepção do estacionamento e do trânsito na entrada.

Este domingo, até às 16h, na Cidade Universitária, cerca de 67% dos 26.792 eleitores inscritos votaram antecipadamente, de acordo com uma extrapolação feita com amostras em seis mesas de voto. Os dados foram divulgados pela Câmara Municipal de Lisboa, que refere que os números finais só serão revelados esta segunda-feira. Em todo o país, foram 208.007 os eleitores inscritos para votar antecipadamente este ano, uma descida relativamente a 2022, em que houve 315.785 inscritos nesta modalidade nas eleições legislativas. O número total dos eleitores que votaram antecipadamente este ano será apenas revelado “em princípio, na sexta-feira”, podendo, por agora, só serem apresentados dados repartidos das câmaras municipais, de acordo com o Ministério da Administração Interna.

A Cidade Universitária, o único local no concelho de Lisboa onde se pôde votar antecipadamente, teve 99 secções de voto repartidas por seis edifícios. “Tem corrido tudo bem e a afluência tem sido normal. O movimento tem sido semelhante [ao de eleições anteriores]”, assinalou ao PÚBLICO, no início da tarde, Diogo Moura, vereador da Câmara Municipal de Lisboa, responsável pelo pelouro do apoio ao processo eleitoral.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi um dos eleitores inscritos que votou antecipadamente. “Considerava-me esclarecido ao fim de quatro meses de pré-campanha e campanha e vim votar”, disse aos jornalistas, depois de ter votado, por volta das 15h40, na Faculdade de Letras. Sem nunca querer comentar a campanha nem fazer comentários sobre cenários de abstenção, referiu que será necessário vir a “ponderar o voto electrónico”.

O único local em Lisboa onde se podia votar antecipadamente foi a Cidade Universitária Nuno Ferreira Santos
Houve 99 secções de voto em seis edifícios Nuno Ferreira Santos
Havia várias indicações na Cidade Universitária para que os eleitores soubessem onde deveriam ir votar Nuno Ferreira Santos
Podiam votar na Cidade Universitária pessoas de diferentes círculos eleitorais Nuno Ferreira Santos
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O único local em Lisboa onde se podia votar antecipadamente foi a Cidade Universitária Nuno Ferreira Santos

Quem também já se sentia esclarecida era Maria Leitão, de 74 anos: “É das eleições em que me sinto mais esclarecida. Nem precisei muito de ouvir as campanhas.” Numa zona com secções concorridas, as que incluíam nomes iniciados por “M”, conta que vai estar fora do país no próximo domingo e decidiu vir já votar. É a primeira vez que o faz antecipadamente e diz que tem sido um processo simples e organizado. À sua frente, uma outra Maria, a Maria Elvira Afonso, de 79 anos, tem votado antecipadamente desde que é possível, para evitar “as filas grandes” a que estava acostumada em Campolide (Lisboa). Até lhe parece que desta vez está mais gente: “Sinto que há uma grande vontade de exercer o direito de voto.”

Assim foi com a família Chen. Rita, de 22 anos, e Rui Chen, de 61, não vão estar no próximo fim-de-semana em Portugal e vieram já votar. Rita já se sentia esclarecida e Rui diz que há 40 anos que se sente esclarecido. Esta foi a primeira vez que pai e filha votaram antecipadamente, numa actividade que já vai sendo de família. À porta da Faculdade de Direito, onde espera a mãe, Rita nota: “Votar é um plano que fazemos em conjunto.”

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