Jacarandás florescem mais cedo no México e despertam debate sobre mudanças climáticas

Plantas começaram a florescer no início de Janeiro, o que fez disparar os alarmes entre residentes e cientistas da Cidade do México, onde se tornaram um pilar icónico e fotogénico.

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Cientistas locais começaram a averiguar a extensão deste florescer precoce, mas apontam as alterações climáticas como o primeiro e principal culpado Reuters/RAQUEL CUNHA
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O aumento das temperaturas fez com que o Inverno da capital mexicana terminasse no início do ano, em meados de Janeiro, em vez de no final de Março Reuters/RAQUEL CUNHA
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Embora não sejam nativos do México, para Ayala os jacarandás cumprem uma função importante para a cidade Reuters/RAQUEL CUNHA
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Atraem mais beija-flores e abelhas do que muitas árvores nativas e uma mudança pode levar à diminuição destas populações Reuters/RAQUEL CUNHA
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Todas as Primaveras, as ruas da capital do México ficam pintadas de roxo com o florescer de milhares de jacarandás. As cores espectaculares destas plantas atraem não só os olhares de moradores e turistas, mas também as asas de abelhas, pássaros e borboletas, que nelas encontram alimento e abrigo. Mas, este ano, algo mudou.

Alguns jacarandás começaram a florescer no início de Janeiro, quando normalmente só despertam na Primavera, o que fez disparar os alarmes entre residentes e cientistas da Cidade do México, onde as árvores se tornaram um pilar icónico e fotogénico das ruas da cidade.

Cientistas locais começaram a averiguar a extensão deste florescer precoce, mas apontam as alterações climáticas como o primeiro e principal culpado.

Alguns jacarandás começaram a florescer no início de Janeiro, quando normalmente só despertam na Primavera RAQUEL CUNHA
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Alguns jacarandás começaram a florescer no início de Janeiro, quando normalmente só despertam na Primavera RAQUEL CUNHA

“Vimos sempre os jacarandás a começar a florescer no final de Março, na Primavera, altura em que vemos as flores a mudarem de cor para violeta”, disse Constantino Gonzalez, investigador do Instituto de Ciências Atmosféricas e Investigação sobre Alterações Climáticas da Fundação Nacional Autónoma da Universidade do México (UNAM). “Este ano começaram a florir em Janeiro e Fevereiro, no Inverno, quando ainda não é a altura delas”, disse o biólogo de 48 anos.

Gonzalez explica que, para estabelecer uma correlação entre as alterações climáticas e o florescimento precoce dos jacarandás, a sua equipa precisa de uma amostra representativa, para comprar o fenómeno de ano para ano. Para tal, criou um grupo que está agora a recolher dados pela cidade e a utilizar imagens de satélite.

O aumento das temperaturas fez com que o Inverno da capital mexicana terminasse no início do ano, em meados de Janeiro, em vez de no final de Março, altura em que deveria terminar.

Fascinado pelas cerejeiras japonesas que cobrem Washington D.C. de rosa e branco a cada Primavera, o presidente mexicano Pascual Ortiz (1930-1932) decidiu replicar a mesma paisagem na capital do seu país.

Mas Tatsugoro Matsumoto, um arquitecto paisagista japonês que se estabeleceu no México no final do século 19, disse-lhe que estas plantas não sobreviveriam durante muito tempo ao clima temperado da cidade. Sugeriu, então, os jacarandás, uma árvore tropical que conheceu durante uma breve estadia no Peru. Desde então, a árvore tornou-se um marco para os nove milhões de habitantes da Cidade do México.

Em Janeiro, os alarmes soaram quando os utilizadores das redes sociais começaram a publicar imagens dos jacarandás em flor e a questionar-se sobre os efeitos das alterações climáticas. “Pela primeira vez, as pessoas começaram a dizer ‘isto é sério, é real’ e a perceber que [as alterações climáticas] não são apenas um urso polar a flutuar à deriva", disse Cristina Ayala, bióloga e doutorada em Ciências da Sustentabilidade. “É bom que as pessoas comecem a ter consciência do que as alterações climáticas vão trazer para os habitantes urbanos”.

Embora não sejam nativos do México, para Ayala os jacarandás cumprem uma função importante para a cidade. Atraem mais beija-flores e abelhas do que muitas árvores nativas e uma mudança pode levar à diminuição destas populações.

“Gostaríamos que os jacarandás florescessem o ano todo, alegram a cidade”, disse Alex Estrada, morador da capital mexicana, enquanto observava uma árvore que começava a ficar violeta. “Mas algo não está bem aqui: jacarandás no Inverno?”, questionou-se.

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