Um meme por dia era o melhor que o seu partido fazia
Os memes que os partidos publicam nas redes sociais, outrora linguagem de vanguarda, são agora pop — e, por isso, uma feliz forma de comunicar com essa velha instituição chamada “juventude”.
Como reagiriam Trótski ou Hayek se lhes disséssemos que agora os seus partidos usam memes para lutar pelo que lutaram em vida? A luta do proletariado substituída pela luta por ter graça? Um Nobel da economia resumido a uma gargalhada num dumb scroll no Twitter?
Face aos memes que os partidos publicam nas redes sociais — e, nesta campanha, parece que a taça vai para o do Bloco de Esquerda e os seus gatos —, seria fácil adoptar um discurso de que se vive a “infantilização da política”, de se ter “chegado ao ridículo”, de “vergonha alheia”.
Nada disso. Os memes, outrora linguagem de vanguarda, são agora pop — e, por isso, uma feliz forma de comunicar com essa velha instituição chamada “juventude”. Para se entender um meme, é preciso dominar o seu jogo de linguagem, compreender a sua estética e estar a par de um contexto que nunca se explica. Embora pareça simples, é um objecto minimamente sofisticado. E não, não infantiliza a política: moderniza-a.
Nos Estados Unidos, em 2016, a brincadeirinha ajudou a levar Donald Trump à Casa Branca. Do Ocidente ao Oriente, não faltam exemplos de líderes que usam memes para comunicar. E isso faz dos memes importantes? Não, mas demonstra a sua universalidade. É que os memes não são deles: são de todos.
A beleza dos memes é precisamente não pertencerem ao político A ou Z, à pessoa X ou Y, à pagina C ou D. Antes, pairam nesse lugar mágico onde só as coisas realmente cobiçadas acedem: o ser de todos e de nenhum. Andam no bolso dos nossos cérebros, quais moedas esquecidas, para serem sacadas no momento certo. Enviamo-los — e do outro lado alguém sorri.
Talvez por isso — a sua simplicidade, a sua universalidade, o facto de serem património comum — sejam cada vez mais utilizados como linguagem estratégica. É um “tu” a falar para outro “tu”.
Não é, portanto, a infantilização de coisa alguma: é, sim, a sofisticação da comunicação. É vestir uma ideia com uma língua familiar. Quem o faz aceita a limitação do meme cujo teor “só será entendido por este ou aquele grupo”; quem o recebe sente que se estão a “falar” para nós então é porque nos “conhecem”. E não é bom sentirmo-nos conhecidos?
O tempo da política cinzenta, pesada e da catacumba tem os dias contados. O que está a dar é a política pop — gira, com graça e disrupção. Política colorida, quer no sentido real, quer no espiritual. Em nada uma comunicação política fresca põe em causa a seriedade das ideias de um partido: a primeira é uma pista de gelo que deve fazer as segundas fluir — e, se estas forem de qualidade, com certeza não se amassam.
Ressuscite-se Hayek para que veja que os memes são um produto que circula pelo mundo sem qualquer restrição; chame-se Trótski para mostrar-lhe que também são património de todos. Eis os memes: ao seu serviço e ao serviço de cada um. Use-os!