Desenrolar novelos

O que as chamas oferecem é uma anulação das cores, uma exibição de cinza, mais negra ou mais branca, mas cinza.

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De novo, a serra ardia. O céu coberto de fumo. Os sobreiros, as oliveiras, os medronheiros cobertos de chamas. O fogo apaga a cor, transforma-a em negro primeiro, em cinzento depois e, se teimar muito, em branco. O que as chamas oferecem é uma anulação das cores, uma exibição de cinza, mais negra ou mais branca, mas cinza. Não difere muito da guerra na sua paleta, igualmente monótona, talvez porque sejam aliados, a guerra e o fogo. Estás com boa cor é sinónimo de saudável, o pálido e o cinzento não são desejáveis. É verdade que o uso do fogo nos protegeu em tempos e continua a fazê-lo, é verdade que se contaram muitas histórias à sua luz, é verdade que ilumina, é verdade que aquece, é verdade que permitiu o cozimento de alimentos, o churrasco primeiro, o guisado depois, mas também é verdade que matou muito — e continua a fazê-lo.

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