Pico de golfinhos mortos nas praias de Grândola é normal, diz ICNF

Nas últimas semanas foram encontrados 14 cetáceos entre Tróia e Melides. Trata-se de “um fenómeno que ocorre com regularidade”.

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O avistamento dos corpos em dias diferentes e semanas sucessivas suscitou receios relativos às causas das mortes dos cetáceos Nicolau Botequilha
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O aparecimento de 14 golfinhos mortos nas praias do Sul do distrito de Setúbal, no espaço de poucas semanas, que tem gerado curiosidade e até algum alarme entre as comunidades locais, é um fenómeno normal, assegura o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). “O arrojamento de cetáceos ao longo da costa portuguesa é um fenómeno que ocorre com muita regularidade, e o areal da costa de Grândola não foge à regra”, explica o ICNF em respostas enviadas ao PÚBLICO.

O avistamento dos corpos em dias diferentes e semanas sucessivas suscitou receios relativos às causas das mortes dos cetáceos, até devido à familiaridade das pessoas desta região com os golfinhos do Sado, mas o ICNF refere que a ideia de que haverá um pico pode não corresponder à realidade.

“Por se tratar de uma zona com uma grande extensão e nem sempre com acessos fáceis à orla costeira, a detecção dos animais em tempo útil nem sempre é possível, o que ocasiona que, por vezes, os arrojamentos sejam detectados todos num curto período de tempo e inclusivamente no mesmo dia, fruto de monitorizações regulares realizadas com recurso a veículos motorizados”, informa o instituto na mesma nota.

Esta tese é confirmada pelo facto de alguns dos golfinhos mortos terem sido detectados por campanhas de limpeza da orla costeira levadas a cabo por organizações não-governamentais, como foi o caso da acção da Brigada do Mar, que, num só dia, encontrou meia dúzia de animais nessa zona.

“De Sines até Tróia encontrámos cinco ou seis golfinhos mortos. Um perto da lagoa da Sancha, no concelho de Sines, e outro já perto do Bico das Lulas, em Tróia, no concelho de Grândola”, disse Miguel Aragonés, operacional da Brigada do Mar, ao PÚBLICO. “Normalmente, o que fazemos sempre que avistamos um animal nessa zona é contactar o Arrojal – Rede Regional do Alentejo, o centro de apoio ao arrojamento na região do Litoral Alentejano”, acrescentou.

Ainda de acordo com este responsável, nesse dia a equipa do centro de arrojamento teve de se deslocar três vezes para ir ao encontro dos voluntários que encontraram corpos no areal. “Os elementos do Arrojal, sempre que podem, retiram logo dados, como parte da mandíbula e alguns dentes, para investigação, e nalguns casos fazem logo a recolha do animal. Quando não é possível a remoção imediata, é colocada uma etiqueta para indicar que está sinalizado”, explicou ainda Miguel Aragonés.

O ICNF esclarece que os 14 golfinhos detectados entre o Bico das Lulas e a costa de Grândola são “todos da espécie golfinho-comum (Delphinus delphis)” e que se “encontravam em diferentes estados de decomposição, mas num estado avançado, indicativo de que as mortes ocorreram há várias semanas”. Este facto “impossibilita a determinação da causa de morte”. Refere ainda que se trata de um fenómeno regular e que em 2023 foram encontrados 26 golfinhos da mesma espécie nesta zona da costa.

“A regularidade deste fenómeno na zona costeira referida torna-se ainda mais evidente tendo em conta o número de arrojamentos desta espécie registados nos últimos três anos, verificando-se uma média anual de cerca de 250 arrojamentos de cetáceos da espécie golfinho-comum, dos quais cerca de 26 foram na região do Alentejo”, conclui o ICNF

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