Produtividade industrial – mais uma oportunidade perdida

É um dos principais problemas do país e, apesar disso, de uma forma estranha, tem sido sistematicamente esquecido e arredado da agenda política e económica.

Ouça este artigo
00:00
03:03

Com o aproximar das eleições de 10 de março deveríamos estar a ouvir os partidos (principalmente o PSD e o PS) sobre como pretendem combater a eterna e fatídica falta de produtividade industrial do país. Temos séculos de baixa produtividade em comparação com outros países europeus. As causas já estão enraizadas e as soluções já estão mais que identificadas.

Assim, seria importante debater publicamente e perceber o que estes partidos pretendem fazer, para promover o aumento da nossa produtividade industrial. Que medidas serão tomadas para atrair cada vez mais investimento direto estrangeiro, criador de valor. O que será feito para combater a morosidade da justiça, que tem desviado investimento para outras paragens. Estão previstos incentivos fiscais para as empresas que aumentem a produtividade? Maior produtividade impacta em melhores salários e mais lucros para as empresas, o que eleva a coleta fiscal, sem esquecer que com melhores salários, os trabalhadores podem consumir mais e pagarão mais IVA.

Está provado por diversos estudos científicos que benefícios fiscais atribuídos às empresas para aumentar a produtividade retornam em receita fiscal ao Estado por via de diversas categorias de impostos. Para além de acelerar o ritmo das exportações de bens, pois as empresas ficam mais preparadas para a competição nos mercados internacionais, também reduz as importações.

A falta de produtividade industrial é um dos principais problemas do país e, apesar disso, de uma forma estranha, tem sido sistematicamente esquecido e arredado da agenda política e económica. Praticamente já fomos ultrapassados por todos os países da União Europeia, mesmo por aqueles que há pouco mais de 30 anos se encontravam a viver de uma forma miserável sob o domínio soviético.

Também é importante perceber o que estes partidos efetivamente pretendem fazer para parar a saída de jovens mais qualificados para o estrangeiro, partindo em busca de melhores salários. Nos anos sessenta e setenta emigraram fundamentalmente para a Europa população rural e de baixa escolaridade. Atualmente emigram jovens qualificados, para os quais pagamos com os nossos impostos a sua formação superior. Quando poderiam contribuir para a riqueza nacional e para o nosso crescimento económico, vão colocar as suas qualificações ao serviço de países que não pagaram um cêntimo para a sua formação. Devemos condená-los por isso? Claro que não. Devemos é condenar quem nada faz para reverter a situação.

Estaremos condenados como aconteceu na crise da construção de 2010 a 2014, em que milhares de trabalhadores do setor emigraram e nunca mais voltaram? Habituaram-se a salários mais elevados, os que ficaram estão-se a reformar e quando precisamos de alguém para uma simples obra temos que pagar valores exorbitantes porque há falta de trabalhadores nessas áreas.

Um país produtivo é um país competitivo e não desperdiça talentos e competências. Não quero acreditar que aqueles que ficarão serão os velhos, os pouco qualificados, os jovens qualificados mas acomodados e aqueles que se servem das ineficiências do sistema político, económico, social e judicial para fazer a sua vida à custa dos outros. Se tudo continuar como está, é o que vai acontecer.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Ler 5 comentários