Factos e contexto sobre três afirmações de André Ventura

Em entrevista ao PÚBLICO, Ventura considera que o Chega é candidato à vitória, apesar de as sondagens o colocarem em terceiro lugar. Peso da economia paralela, dizem estudos, é menor do que afirma.

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O Chega tem sido colocado em terceiro lugar nas sondagens NFS Nuno Ferreira Santos
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A frase

“(...) o Chega é candidato a vencer as eleições, segundo dizem as sondagens”

O contexto

Durante a entrevista ao PÚBLICO, André Ventura afirmou que o seu partido seria um candidato a vencer as eleições, segundo as sondagens.

Em nenhuma das sondagens publicadas na página da Entidade Reguladora da Comunicação (ERC), em nenhuma – desde 7 de Novembro, dia em que António Costa anunciou a sua demissão – o Chega ascendeu ao primeiro, nem ao segundo lugar nas intenções de voto. Estas posições foram sempre ocupadas ou pelo PS ou pelo PSD/Aliança Democrática (AD). O Chega ficou sempre no terceiro lugar.

Segundo a sondagem de Fevereiro do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica (Cesop) para o PÚBLICO, RTP e Antena 1, o Chega reunia, a 5 de Fevereiro, 19% das intenções de voto (com distribuição de indecisos). No entanto, fica ainda nove pontos percentuais abaixo do PS, na segunda posição. A AD está em primeiro, com 32% dos votos.

A Sondagem das sondagens da Renascença, que reúne o resultado dos inquéritos de opinião políticos realizados em Portugal (e que é actualizada diariamente) mostra que, ainda que nas últimas semanas o Chega tenha alcançado percentagens nunca antes atingidas pelo partido em sondagens, está a uma certa distância de AD e PS. A 12 de Fevereiro de 2024, o agregado de sondagens da rádio portuguesa dizia que o Chega estava dez pontos percentuais abaixo da AD. O PS estava à frente da coligação por um ponto percentual.

A frase

“Acho que quem viveu Pedrógão Grande sabe bem o que uma mão criminosa pode fazer”

O contexto

"Cabe a cada país decidir os seus casos [para a pena de prisão perpétua]. Para Portugal os incêndios são um flagelo que não são na Irlanda. Os incêndios em Portugal têm uma conotação, acho que quem viveu Pedrógão Grande sabe bem o que uma mão criminosa pode fazer", afirmou Ventura.

Não sendo exactamente um facto, esta frase sobre o que sabem os que viveram Pedrógão contém em si a ideia de que houve crime ou mão criminosa no incêndio. Na verdade, todos os 11 arguidos do processo que procurava apurar responsabilidades pelas vítimas dos incêndios foram absolvidos. Em Setembro de 2022, o tribunal concluiu que as “fatalidades” aconteceriam independentemente da gestão e da acção de autarcas, dos bombeiros e dos responsáveis de empresas.

O tribunal considerou, como o PÚBLICO noticiou a 22 de Setembro de 2022, “que as condutas de nenhum dos arguidos” constituíram “nexo causal adequado para produzir” o desfecho dos acontecimentos.

Foram sim condenados a penas de prisão efectiva o ex-presidente da Câmara de Pedrógão Grande Valdemar Alves e o antigo vereador Bruno Gomes, no âmbito do processo da reconstrução de habitações na sequência dos incêndios, por crimes de prevaricação de titular de cargo político e burla qualificada, alguns dos quais na forma tentada. Foram condenados a penas de prisão suspensas outras 12 pessoas.

A frase

“Eu acho que existem 89,5 a 95 mil milhões [na economia paralela]”

O contexto

De acordo com um estudo realizado pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), o peso da economia paralela, em 2022, foi de 34,37% do PIB português. Ou seja, cerca de 82,2 mil milhões de euros, um valor inferior ao levantado por André Ventura.

De acordo com os dados do estudo, conhecido em Junho do ano passado, o peso da economia não registada (terminologia que o trabalho utiliza para se referir à economia paralela) tem crescido desde 1996 até 2022.

Este número, porém, é diferente do apresentado, em Setembro de 2021, por Friedrich Schneider, que costuma fazer estudos sobre o assunto que são publicados pelo Fundo Monetário Internacional. Segundo o autor, o peso da economia paralela em Portugal era de 16,5% em 2021, um valor inferior ao que registou em 1991 (23,28%).

Como explicou ao PÚBLICO, em Junho, Óscar Afonso, economista e director da FEP, as diferenças advém do facto de “Schneider, nos seus estudos, realizar as suas estimativas para Portugal com base nas estruturas dos países mais desenvolvidos”. Ou seja, a forma de apurar a dimensão da economia paralela tem uma influência determinante no resultado final a que se chega.

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