Andar a aprender

Não é o acto de caminhar que faz aprender, é aprendendo caminhando: essa era a minha escola, um jardim, um passeio.

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— Sempre fui peripatético — disse o falecido professor à Alexandra —, gostava de dar aulas a caminhar, dava voltas e voltas e voltas e voltas dentro da sala de aula enquanto enchia a tripa dos alunos com a carne moída do ensino. Agora, na minha vida pós-morte, ando meio perdido, entre cá e lá. Mas gosto desta confluência, de ir aparecendo para pôr a conversa em dia, somos seres coexistentes, nós os dois, apesar de eu já não ter carne nenhuma, ao contrário da irmã, que é um monumento dela, uma catedral orgânica. O ensino peripatético, que eu sempre defendi, o de Aristóteles e o dos epicuristas, é fundamental para mudar a educação, reduzindo os malefícios da absorção de informação passiva e sentada, cujos estudos, não sei se está a par deles, dizem reduzir a massa cinzenta. O ensino, irmã, sempre foi feito num só sentido, do professor para estudantes sentados, posição que não é nada natural para um jovem, isso deixa-os irrequietos, desobedecem, vão contra o sim, senhor professor, sim, senhora professora, abram os vossos manuais, abram os ouvidos, tomem atenção, estejam calados, as minas de volfrâmio, os rios, as linhas férreas e respectivas estações, os nomes dos monarcas, a métrica d’Os Lusíadas; o problema não são os professores, o problema é o ensino, há tanta falta de alegria. Ora, um estudante sentado não é um estudante, é um par de orelhas e pouco mais, falta-lhe viagem e horizonte, não pode ser só cadeiras e cátedras. A escola dos sentados é uma escola com bolor e sem futuro. Mas, enfim, há esperança, isto vai mudando devagarinho, que eu tenho reparado.

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