Ouro, história e Olimpo: Diogo Ribeiro é campeão do mundo na natação

Em 22 segundos, Diogo Ribeiro tornou-se o primeiro português campeão do mundo de natação. Já não há ninguém melhor do que ele a nadar 50 metros mariposa. E só tem 19 anos.

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Diogo Ribeiro festeja a conquista da medalha de ouro
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Reuters/ISSEI KATO
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Diogo Ribeiro no final da prova dos 50m mariposa que lhe deu o ouro mundial
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Eram 16h54 em Portugal continental – mais três horas em Doha, no Qatar – quando um português se tornou, pela primeira vez, o melhor do mundo numa prova de natação. Nesta segunda-feira, Diogo Ribeiro saltou, mergulhou, nadou e celebrou. Já não há ninguém melhor do que ele no mundo actual, mas também na história da natação portuguesa.

O nadador português é o novo campeão do mundo dos 50 metros mariposa, marca nunca alcançada por qualquer nadador nacional – o jovem de 19 já tinha sido o primeiro a conquistar uma medalha, em 2023, com a prata no Japão. Diogo Ribeiro terminou a prova em 22,97 segundos, batendo Michael Andrew e Cameron McEvoy, representantes de potências da natação como Estados Unidos e Austrália.

O início da prova não foi fulgurante, com Diogo a reagir bem à partida, mas a não fazer um percurso subaquático de encher o olho. Depois, ligou o "motor". Com uma recuperação tremenda, teve uma ponta final explosiva, um deslizamento final perfeito e levou o ouro. O próprio nadador reconheceu, logo após a prova, que "o início não foi bom", mas que está "feliz por ser campeão do mundo".

Vitória "prometida"

Há alguns meses, perguntar a um leigo o que pensa dos nadadores portugueses poderia dar uma resposta vaga sobre alguns nomes conhecidos, num país globalmente mediano nesta modalidade. Hoje, fazer a mesma questão a um mesmo leigo dá, em tese, uma resposta do tipo “já ouvi dizer que temos aí um miúdo de Coimbra a aparecer”. Isto foi escrito nestas páginas em 2022 e, em 2024, já não tem validade alguma. Diogo Ribeiro fez por esvaziar o nexo desta premissa e é, hoje, uma certeza da natação e não um miúdo de Coimbra a aparecer.

E este título mundial está longe de ser uma surpresa. Horas antes da prova, José Machado, director desportivo da Federação Portuguesa de Natação, apontou o ouro como desfecho bem possível. “O Diogo está no momento de forma exigido para poder discutir a melhor posição, que é ser campeão do mundo”, garantiu à Renascença. “Estamos a falar de um nadador que, no último Mundial, foi vice-campeão do mundo. O Diogo entrou com o melhor tempo neste campeonato, portanto [o ouro] é de certeza a aspiração dele”.

Numa prova de 50 metros, não há gestão física nem demasiada componente táctica, como numa prova longa. Tratou-se de saltar, nadar o mais rapidamente possível e tocar na parede antes dos outros. Parece simples? Talvez. Mas este título mundial é um trabalho que começou em 2008, quando Diogo começou a nadar aos quatro anos. 15 anos depois, não há nada de simples nisto nem no percurso de alguém que perdeu o pai ainda muito novo, teve problemas na escola e um acidente que quase o matou.

Os 50 metros mariposa não são uma distância olímpica, mas esse detalhe não retira peso à conquista: continua a ser um ouro num Mundial de natação e ninguém nascido neste país tinha tido capacidade para lá chegar.

Agora ainda aí vêm os 50 livres, os 100 mariposa e os 100 livres, provas com vários atletas de topo ausentes, por ser ano olímpico.

Maior feito de sempre da natação

Questionado pelo PÚBLICO sobre a magnitude deste feito, José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, foi claro: "É um dos maiores feitos de sempre". E sobre a grandeza do feito à escala da natação ainda teve menos dúvidas: "Maior feito de sempre da natação? Ah isso seguramente. Nem há um termo de comparação".

Constantino lembrou que a natação "é uma modalidade híper competitiva a nível internacional" e que Portugal "sempre esteve longe do topo, quanto mais de um campeão do mundo".

O dirigente olímpico acredita que o sucesso de Diogo Ribeiro "é um indicador de que temos capital humano com qualidade no desporto nacional" e será "estimulante para um efeito positivo na massa dos praticantes". "Vai ter um impacto grande na natação portuguesa", acrescentou, antes de disparar que nos Jogos Olímpicos, noutras distâncias que não esta dos 50 metros mariposa, "uma final seria extraordinário" para o nadador.

Texto modificado às 18h30, com declarações de José Manuel Constantino.

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