Papa vê “hipocrisia” nos que condenam bênçãos aos casais do mesmo sexo

Papa Francisco sai, de novo, em defesa da bênção que aprovou ainda em Dezembro e que tem sido alvo de críticas dentro da própria Igreja Católica

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O Papa tem tentado tornar a Igreja mais inclusiva e menos crítica Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
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O Papa Francisco diz ver “hipocrisia” nas críticas à sua decisão de permitir que os padres abençoem casais do mesmo sexo, provavelmente a expressão mais veemente que usou em defesa da sua decisão.

A bênção às pessoas LGBT foi autorizada no mês passado pelo documento do Vaticano Fiducia Supplicans, mas foi recebida com uma resistência significativa de alguns sectores da Igreja Católica, particularmente dos bispos africanos.

“Ninguém se escandalizaria se desse a minha bênção a um empresário que talvez explore pessoas, e isso é um pecado muito grave. Mas escandalizam-se se a dou a um homossexual”, disse o Papa à revista italiana católica Credere. “Isto é hipocrisia”, afirmou.

A revista divulgou alguns extractos de entrevista esta quarta-feira, um dia antes da sua publicação. O Papa Francisco também diz que dá “sempre” as boas-vindas às pessoas LGBT e divorciados recasados ao sacramento da confissão, de acordo com outra passagem publicada pelos media do Vaticano.

“Ninguém devia ver-lhe recusada uma bênção. Todos, todos, todos”, disso o pontífice, repetindo o slogan de três palavras que usou em Agosto durante a Jornada da Juventude em Portugal.

O Papa Francisco, que já usara a famosa expressão “Quem sou eu para julgar?”, quando questionado sobre a homossexualidade no início do seu papado, assumiu como uma das suas missões tornar a Igreja Católica mais acolhedora e menos crítica.

Os conservadores dizem que isto é um risco que pode minar os ensinamentos morais da Igreja.

O Papa Francisco defendeu o Fiducia Supplicans em várias ocasiões, mas reconhece a resistência que tem existido, dizendo, por exemplo, que os padres devem ter em conta as sensibilidades locais quando dão a bênção.

Também frisou que tais bênçãos não vão contra a visão formal da Igreja sobre as uniões entre pessoas do mesmo sexo. “Quando um casal vem espontaneamente pedi-la [à bênção], não é a união que é abençoada, mas simplesmente as pessoas que em conjunto a pediram. Não a união, mas as pessoas”, disse a 26 de Janeiro.

A Igreja Católica defende que o sexo homossexual é pecado e irregular, e que as pessoas que se sentem atraídas por outras do mesmo sexo, devem tentar ser castas.

Numa outra entrevista publicada na semana passada no diário italiano La Stampa, o Papa Francisco disse que esperava que os críticos das bênçãos às pessoas LGBT acabariam por entendê-las, mas que os africanos eram “um caso especial” na sua oposição à homossexualidade.

Os bispos em África rejeitaram oficialmente o Fiducia Supplicans, dizendo que não pode ser aplicado sem causar escândalo. O Papa e o chefe do departamento doutrinal do Vaticano, o cardeal Victor Manuel Fernandez, aceitaram essa posição.

Em alguns países africanos, a homossexualidade é severamente punida, com sentenças de prisão ou mesmo a pena de morte.

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