Catalunha mata a sede com água dessalinizada transportada de barco

Cerca de 500 milhões de euros é quanto o Estado espanhol investe na instalação de duas centrais de dessalinização e no transporte de água potável de Valência para a região catalã.

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Uma faixa com a inscrição "Não ao envio de água para a Catalunha" colocada na vedação que rodeia a central de dessalinização na cidade de Sagunto, na região da Comunidade Valenciana, adjacente à Catalunha, Espanha, 5 de Fevereiro de 2024 EPA/Manuel Bruque
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Um funcionário na central de dessalinização na cidade de Sagunto, na região da Comunidade Valenciana, adjacente à Catalunha, Espanha, a 5 de Fevereiro de 2024 EPA/Manuel Bruque
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Uma área seca do reservatório de Baells em Barcelona, Espanha, a 31 de Janeiro de 2024, imagem divulgada a 4 de Fevereiro EPA/SIU WU
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Pessoas visitam a barragem de Sau por ocasião da declaração de emergência devido à seca, em Sau, perto de Barcelona, Catalunha, Espanha, a 4 de Fevereiro de 2024 EPA/SIU WU
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Uma pessoa junto ao rio Llobregat em el Prat de Llobregat, em Barcelona, Espanha, a 1 de Fevereiro de 2024 EPA/QUIQUE GARCIA
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A albufeira de Sau, por ocasião da declaração de emergência devido à seca, perto de Barcelona, Catalunha, Espanha, a 4 de Fevereiro de 2024. As ruínas da antiga cidade de Sant Roma de Sau, inundada há vários anos quando esta barragem foi criada, podem ser vistas agora devido à falta de água EPA/SIU WU
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O reservatório de Baells em Barcelona, Espanha, 31 de Janeiro de 2024 EPA/SIU WU
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A albufeira de Sau, por ocasião da declaração de emergência devido à seca, em Sau, perto de Barcelona, Catalunha, Espanha, a 4 de fevereiro de 2024 EPA/SIU WU
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A albufeira de Sau, por ocasião da declaração de emergência devido à seca, em Sau, perto de Barcelona, Catalunha, Espanha, a 4 de Fevereiro de 2024 EPA/SIU WU
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A albufeira de Sau, por ocasião da declaração de emergência devido à seca, em Sau, perto de Barcelona, Catalunha, Espanha, a 4 de Fevereiro de 2024 EPA/SIU WU
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A albufeira de Sau, por ocasião da declaração de emergência devido à seca, em Sau, perto de Barcelona, Catalunha, Espanha, a 4 de Fevereiro de 2024 EPA/SIU WU
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O parque agrícola de Baix Llobregat, em Barcelona, Espanha, a 1 de Fevereiro de 2024 EPA/QUIQUE GARCIA
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O parque agrícola de Baix Llobregat, em Barcelona, Espanha, a 1 de Fevereiro de 2024 EPA/QUIQUE GARCIA
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A vice-presidente do Governo espanhol e ministra da Transição Ecológica e do Desafio Demográfico, Teresa Ribera, anunciou ontem em Barcelona que o Estado central vai financiar a construção de duas novas centrais de dessalinização na região da Catalunha que aumentarão o tratamento de água em 80 hectómetros cúbicos (hm3) por ano. O custo da instalação destes equipamentos estruturais para a produção de água potável ascende aos 467 milhões de euros, para estarem concluídos em 2028 e 2029.

Relativamente às medidas de emergência que começaram a vigorar desde a última sexta-feira, para 202 municípios da Catalunha, onde vivem cerca de 6 milhões de pessoas, o Governo espanhol disponibilizará água da central de dessalinização de Sagunto, situada em Valência, que será transportada em dois barcos até à cidade de Barcelona. A partir do próximo mês de Junho e diariamente, dois navios levarão até 40.000 metros cúbicos (m3) de água dessalinizada para fazer face à emergência declarada para a região da Catalunha, que inclui os territórios de Girona e Costa Brava, devido à seca. Este volume de água assegurará 16% do consumo diário da água necessária ao consumo humano.

Teresa Ribera explicou que a transferência de água por navio apresenta-se como a solução “mais simples e viável” num contexto em que a escassez de água se revela crítica. Entretanto, um comunicado emitido pelo Ministério da Transição Ecológica (Miteco) salienta que Espanha “é líder europeu na produção de água dessalinizada” e o quarto país a nível mundial em capacidade instalada neste tipo de equipamentos. No total, Espanha já produz cerca de 5 milhões de metros cúbicos de água tratada por dia, “um sistema crucial no abastecimento de água potável em situações de escassez” acrescenta o Miteco.

O Diário Oficial da Generalitat da Catalunha (Dogc) publicou na passada sexta-feira a resolução que decreta a entrada em “estado de emergência devido à seca hidrológica” do sistema que engloba os rios Ter e Llobregat, que abastece 202 municípios, incluindo Barcelona e sua área metropolitana.

A emergência está subdividida em três fases, cada uma das quais com restrições mais severas a aplicar em função do nível dos reservatórios. Desde 2 de Fevereiro, cada residente ficou com um consumo restrito de 200 litros de água por dia, com limitações para usos industriais, agrícolas e recreativos, como parte da primeira fase da emergência por seca.

Esta medida extrema surge na sequência da “diminuição crítica” das reservas hídricas naquelas linhas de água, depois de o nível de armazenamento nos reservatórios que abastecem as comunidades afectadas ter descido abaixo dos 100 hm3 (16% da sua capacidade). O consumo da cidade de Barcelona ao longo de 2022 foi de 91,5 hectómetros cúbicos e a situação crítica em que se encontram as reservas de água fazem da capital da Catalunha a primeira grande cidade do Sul da Europa a ser afectada por uma seca extrema e pelas restrições hídricas que lhe estão associadas.

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A albufeira de Sau, por ocasião da declaração de emergência devido à seca, perto de Barcelona, Catalunha, Espanha, a 4 de Fevereiro de 2024. As ruínas da antiga cidade de Sant Roma de Sau, inundada há vários anos quando esta barragem foi criada, podem ser vistas agora devido à falta de água EPA/SIU WU

“A água não cai só do céu”

O relatório apresentado pela Generalitat (governo regional) da Catalunha, “A água não cai só do céu”, confirma que a Catalunha é afectada por uma “seca histórica”. O Serviço Meteorológico da Catalunha (SMC) reconhece que o actual episódio de seca assumiu “maiores proporções” do que em qualquer outro período anterior e com a precipitação atmosférica abaixo da média, desde o Outono de 2020.

Os rios que alimentam os principais reservatórios da região catalã apresentam caudais deficitários há três anos e a área afectada pela falta de água estende-se por mais de 50% do território. O SMC estima que serão necessários nove meses de chuva persistente para repor uma situação de normalidade nas reservas de água que suportam o abastecimento da Catalunha.

O actual défice pluviométrico acumulado é de 466 mm, ou seja, uma quantidade equivalente à chuva que cai em média em Barcelona ao longo de um ano, que teria de equivaler a “inundar a Catalunha com meio metro de água” comparou Sarai Sarroca.

Em síntese, a falta de água obrigou o governo catalão a tomar “medidas correctivas” para intensificar a economia e o uso da água de forma “mais eficaz” em todas as áreas (urbana, agro-pecuária, industrial e recreativa e desportiva).

O volume total de água actual nos reservatórios que abastece a população impõe, durante o período de declaração de emergência, o consumo máximo de 200 litros por habitante e por dia, mas estão previstos dois outros cenários, de 180 litros e 160 litros, consoante o eventual agravamento da situação.

Proibições da declaração de emergência

Um cortejo de outras medidas restritivas está incluído na declaração de emergência do governo da Catalunha. Assim, é proibida a lavagem de veículos automóveis fora dos locais com sistemas de reciclagem de água, a limpeza de ruas, calçadas, fachadas de edifícios públicos e privados.

No sector agrícola, a redução de água para o regadio será de 80%, a pecuária sofrerá um corte de 50% e os usos pela indústria 25%. Está proibido o uso de água para fins recreativos.

A declaração do estado de emergência impede que os parques urbanos e jardins sejam irrigados com água potável. O acesso às escassas reservas existentes nos reservatórios da Catalunha estará vedado aos chuveiros das instalações desportivas e as fontes e repuxos públicos serão fechados. Se até Julho a precipitação atmosférica continuar a revelar-se escassa ou inexistente, as medidas restritivas chegarão às residências, que podem ver reduzida a pressão da água. O enchimento de piscinas públicas e privadas não será permitido. Cerca de 80% da população catalã será afectada pelas restrições no acesso à água.

A Catalunha conseguiu evitar medidas mais extremas devido aos sistemas de dessalinização e regeneração que produzem actualmente 55% de toda a água utilizada na região.

Mesmo assim, se o actual quadro de fraca precipitação atmosférica se mantiver, as autoridades catalãs poderão ser forçadas a reduzir até 90% o caudal dos rios Ter, Llobregat e Muga.

As organizações ambientalistas já fizeram a denúncia pública da opção do governo catalão quando este anunciou poder vir a ter de reduzir os caudais de alguns rios para suprir as necessidades do consumo de água. Dante Maschio, porta-voz da organização ambiental Aigua és Vida, denuncia o impacto negativo que a extracção de água irá provocar nos ecossistemas, e Jaume Grau, da associação Ecologistas en Acción, salienta que os caudais ecológicos "foram violados" em várias linhas de água da Catalunha.

“Esta é a seca mais dura e profunda desde que existem dados”, lembrou o ministro da Acção Climática da Generalitat da Catalunha, David Mascort, frisando que as decisões a tomar “terão impacto nas actividades económicas e na vida dos nossos rios, mas a situação é muito complicada e grave”, concluiu o governante catalão.

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