Seguros de saúde insuficientes

No final de 2022, foi divulgado um estudo que corroborava esta impressão: os seguros de doença apenas representavam 4% dos gastos totais em saúde!

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Somos um país pobre de baixos salários, com impostos terríveis, quase todos cobrados ao trabalho. Por isso, quando nos dizem que 3 milhões de portugueses têm um seguro de saúde, é fácil inferir de que será mixuruca na sua generalidade. Sempre dará para ir obturar um dente ou ir a uma Urgência tratar de uma amigdalite, mas a cobertura do seguro deverá ser curta e ficará por aí. No final de 2022, foi divulgado um estudo que corroborava esta impressão: os seguros de doença apenas representavam 4% dos gastos totais em saúde!

Com a crise do SNS, escancarada em 2023 pela carência de horas/médico disponíveis, os tempos de espera nas urgências dos hospitais privados dispararam. Os 3 milhões de segurados, assustados com as notícias reais do desespero nos hospitais do SNS dos doentes, familiares e bombeiros, lembraram-se da alternativa que tinham à mão. Rumaram aos edifícios espelhados, a emanarem modernidade e eficiência, mas encontraram as salas de espera cheias. A equipa médica estava dimensionada para os 50 doentes habituais e não para o triplo das solicitações. É curioso verificar que, na urgência do hospital privado, há menos doentes a reclamarem. Talvez as cadeiras sejam melhores, ou lhes custe confessar a desilusão.

Pior do que o maior número de doentes nas urgências dos hospitais privados, foi o facto de haver um claríssimo agravamento na complexidade das situações clínicas, obrigando à indicação para internamento. Ora, é aí que o tal seguro de saúde fica pequenino … Começa por ser necessária uma franquia, que ronda os 1500 euros. Depois, terá de se ver a tipologia do internamento, para ver quantos dias o seguro suporta. No Expresso de 11/1/24 era referida uma fonte segundo a qual, em cerca de 70% dos casos, o doente pedia a transferência para um hospital do SNS, por não conseguir suportar a despesa.

Sem quererem rever as coberturas dos seguros de saúde, as companhias seguradoras preparam-se para agravar substancialmente os prémios. Para além do aumento dos custos decorrentes da inovação no diagnóstico e terapêutica, dizem-nos que a causa maior é o aumento da frequência da utilização, por “culpa da crise no SNS”. De facto, o ideal é vender um seguro barato, com a crença de que não venha a ser usado, ou, se o for, que seja por uma doença de caracará!

Era bom que houvesse um organismo regulador dos seguros de saúde, que pudesse aconselhar uma cobertura de risco mínima, sem dar a falsa sensação de segurança de uma alternativa ao hospital público. É sempre caro aquilo que se paga barato, mas que não tem serventia.

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