A guerra entre russos e ucranianos estende-se a África

O Kyiv Post divulgou um vídeo mostrando um soldado das forças especiais interrogando um alegado prisioneiro russo no Sudão. Kiev terá enviado homens para combater os interesses russos em África.

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Criança em Cartum mostra uma cartucheira ainda com balas MOHAMED NURELDIN ABDALLAH/Reuters
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Três homens vendados estão de joelhos em terra, tronco nu e calças de camuflado. Dois brancos e um negro. Em frente a eles, um soldado interroga o branco que afirma pertencer à “PMC Wagner”, ou Grupo Wagner, a empresa paramilitar russa com presença em vários países do continente. O homem explica que entrou no Sudão com uma centena de homens vindos da República Centro Africana, onde os mercenários russos garantem a segurança do Presidente Faustin Archange-Touadéra. Quando questionado porque estão ali, o homem é taxativo: “Para derrubar o Governo.”

A presença em geral do Grupo Wagner em África é sabida, tal como a presença particular dos mercenários russos no Sudão, combatendo ao lado dos rebeldes da Força de Apoio Rápido (RAF), que, desde Abril do ano passado combatem o Exército sudanês numa guerra aberta que já provocou 13 a 15 mil mortos e quase oito milhões de deslocados, o que a torna a maior catástrofe humanitária do mundo na actualidade.

A novidade do pequeno vídeo, não confirmado de fonte independente, mas divulgado pelo Kyiv Post, que afirma tê-lo conseguido dos serviços secretos da Ucrânia, é a presença dos homens das forças especiais ucranianas no Sudão. Como conta o Guardian esta terça-feira, há vários meses que se especula que o Governo de Volodymyr Zelensky decidiu estender o palco da sua luta contra a Rússia a outros lugares onde Moscovo mantém interesses, algo que estas imagens parecem vir agora confirmar.

Há referências à presença de soldados ucranianos no Sudão desde Setembro do ano passado. Uma notícia da CNN adiantava que provavelmente estariam ali para ajudar o Exército sudanês a resistir aos ataques das RAF e evitar que o Presidente de facto do Sudão, o general Abdel Fattah al-Burhan, seja derrotado ou que o conflito se alargue a outros países da região.

Em Novembro passado, o jornal Le Monde, numa notícia titulada “A Ucrânia procura desafiar a Rússia em África”, falava num esforço para contrariar os interesses de Moscovo usando meios diplomáticos, parcerias económicas e militares e também o envio de forças especiais.

“Pensámos que a invasão de um território soberano e as graves violações do direito internacional por parte do Exército russo colocariam automaticamente os países do nosso lado. Subestimámos a forte influência russa no continente africano", disse Alexander Khara, especialista em relações internacionais do Centro de Estratégias de Defesa, um think tank de Kiev. "Para ganhar a guerra, a Ucrânia tem de fazer sentir o seu peso nos novos centros de influência e crescimento em África."

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