Sérgio, Pedro, Zeca: e nós?

Se votarmos com o nosso lado bom, com generosidade e espírito fraternal, olhando para o outro como um companheiro e não como um inimigo ou como uma ameaça, as sombras que nos assolam desvanecer-se-ão.

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Cinquenta anos! Há quase 50 anos, o 25 de Abril trouxe-nos liberdade. Trouxe-nos promessas de liberdade a sério, com paz, pão, habitação, saúde e educação, como cantava Sérgio Godinho. Cinquenta anos depois, Portugal está melhor, muitíssimo melhor. Algo que, em tempos de vertigem populista, de falta de memória e de depreciação da própria democracia, demasiadas pessoas parecem prontas a esquecer. Mas, sim, também é verdade: muitas das promessas de Abril não foram cumpridas. É preciso mais. É preciso, como diria Pedro Abrunhosa, fazer o que ainda não foi feito.

Os tempos de Abril foram tempos exaltantes. Tempos de alegria esfusiante, em que se sentia, todos sentiam, que tudo era possível! Tempos de enorme generosidade, de esperança ilimitada, de entusiasmo transbordante. Para quem viveu esses tempos, o contraste com o sentimento hoje dominante entre nós, de desesperança e desorientação, é chocante.

Cinquenta anos volvidos, somos chamados a votar, em eleições cruciais para o nosso futuro coletivo. Votemos onde votarmos, votemos sem perda de memória e votemos com generosidade, com o melhor de nós! Votemos sem nos deixarmos dominar pelo ódio, pelo medo, pela raiva, pela frustração, pelo ressentimento, pela desconfiança.

Sim, votemos contra a corrupção. Conscientes, porém, de que a pior das corrupções reside na captura do poder político pelo poder económico e que a forma de a combater consiste em aprofundar, e não em estiolar, a democracia. Votemos, usando o voto para resolver as persistentes injustiças e para contrariar a crescente desigualdade social. Para afirmar a radical dignidade das pessoas, de todas as pessoas. E votemos para que Portugal seja, como cantava Zeca Afonso, uma terra de fraternidade.

Se votarmos com o nosso lado bom, com generosidade e com espírito fraternal, olhando para o outro como um companheiro e não como um inimigo ou como uma ameaça, as sombras que nos assolam desvanecer-se-ão. O povo é mesmo quem mais ordena! Os capitães de Abril, que arriscaram a sua vida por nós, não merecem que o povo traia a sua memória. Seria imperdoável!

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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