O lixo no mar é tanto que muitos caranguejos-eremitas passaram a usá-lo como carapaça

Cientistas confirmaram que este comportamento dos caranguejos-eremitas de escolherem plástico como conchas acontece a uma escala global.

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Os caranguejo-eremita passaram a usar lixo e pedaços de plástico como protecção. Todos os anos são despejados milhões de toneladas de lixo ao mar Luis Diaz Devesa/GettyImages
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A maioria das espécies terrestres de caranguejos-eremitas em todo o mundo já utilizou lixo e pedaços de plástico como carapaça, de acordo com um estudo realizado por especialistas de duas universidades polacas que será publicado no próximo mês.

O estudo analisou imagens de caranguejos-eremitas disponíveis publicamente na Internet, assim como estudos científicos anteriores. Foram encontrados 386 exemplos de crustáceos envoltos em lixo em vez de conchas, dos quais cerca de 85% usavam tampas de plástico e os restantes usavam metal e vidro. O estudo inclui indivíduos de 10 das 16 espécies de caranguejo-eremita que vivem em terra e que se encontram nos trópicos, da África à América Central.

"Confirmamos pela primeira vez que a utilização de materiais artificiais pelos caranguejos-eremitas é um comportamento que ocorre à escala global", escreveram os autores do estudo no artigo, que será publicado na revista Science of the Total Environment.

"O plástico é o elemento mais comum do lixo marinho, com impacto nocivo na vida selvagem", escreveram.

Os autores do estudo afirmam que os caranguejos-eremitas podem estar a escolher casas de plástico porque se camuflam melhor num ambiente poluído, ou que pode haver mais pedaços de lixo do que carapaças adequadas e disponíveis em algumas costas.

Outros factores podem incluir a utilização de uma concha única na sinalização sexual para atrair um companheiro, o facto de as conchas artificiais poderem ser menos pesadas e ainda o odor, escreveram.

Um estudo de 2021 descobriu que os caranguejos-eremitas parecem ser atraídos por um químico emitido pelo plástico.

O plástico pode ser perigoso para os caranguejos-eremitas. Um estudo de 2019 sobre as Ilhas Cocos (Keeling), um território australiano remoto no Oceano Índico, descobriu que mais de meio milhão de caranguejos-eremitas das ilhas rastejaram para dentro de itens como garrafas, ficando presos e morrendo. Os investigadores descobriram que 414 milhões de pedaços de lixo tinham sido arrastados para as costas das ilhas pouco povoadas.

Ao contrário da maioria dos caranguejos, que têm abdómenes naturalmente calcificados, os caranguejos-eremitas nascem com corpos moles. Evoluíram para encontrar conchas para viver no seu interior, nas quais se podem retrair para se protegerem ou para estenderem as patas e se deslocarem. Encontram conchas maiores e mudam-se para elas à medida que crescem.

As enormes quantidades de lixo gerado pelos humanos nos oceanos podem colocar os caranguejos-eremitas num novo rumo, escreveram os autores do estudo, utilizando o termo proposto para a nossa actual época geológica, definida pela actividade humana. "As conchas artificiais estão a preparar o cenário para uma nova trajectória evolutiva dos caranguejos-eremitas", escreveram, "ou são uma armadilha ecológica e evolutiva do Antropoceno?"

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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