Lionn confirma aliciamento por César Boaventura para perder contra o Benfica

Ex-jogador é o terceiro futebolista do Rio Ave a confirmar alegados encontros com o empresário. Advogado de Boaventura pediu suspensão do processo, mas juiz recusou.

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César Boaventura está a ser julgado por crimes de corrupção Paulo Pimenta/Arquivo
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O ex-jogador do Rio Ave Lionn confirma ter sido aliciado por César Boaventura para perder contra o Benfica, sendo o terceiro rio-avista a confirmar propostas de aliciamento do empresário em tribunal. Nas duas sessões anteriores, Cássio e Marcelo, antigos colegas de equipa do jogador ouvido esta sexta-feira, também acusaram Boaventura de propostas para ajudar o Benfica frente ao Rio Ave em Abril de 2016. A leitura da sentença está marcada para o dia 7 de Fevereiro, às 15h30.

“Ele pediu para eu deixar o telemóvel no banco de passageiro do carro dele. Disse que a proposta era de 80 mil euros em notas de 500 para fazer um penálti e ser expulso durante o jogo”, afirmou o jogador no Tribunal de Matosinhos. Lionn diz que Boaventura acenou com uma transferência para Espanha, aumentando para 100 mil euros a oferta após a recusa inicial do jogador.

No encontro junto à Staples de Vila do Conde, Lionn diz que Boaventura lhe terá pedido para deixar o telemóvel no banco de passageiros, conversando fora da viatura. Depois de semanas em paradeiro incerto aos olhos das autoridades portuguesas, o actual director desportivo do Ribeirão compareceu finalmente como testemunha no caso em que é julgado o empresário César Boaventura.

Apesar de confirmar a tentativa de aliciamento, voltaram a surgir contradições face ao depoimento prestado em 2018. Nomeadamente o facto de César Boaventura ter explicitado se o dinheiro era de Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Benfica. Há seis anos, Lionn disse que sim. Esta sexta-feira, não o mencionou. Também a data exacta da comunicação da tentativa de aliciamento não é consensual, com versões contraditórias apontadas pelo jogador.

Juiz recusa suspensão do processo

Pelo facto de César Boaventura ter dois processos a correr na Justiça e por existir impacto numa eventual pena, o advogado do empresário, Carlos Melo Alves, pediu a suspensão deste processo de corrupção, de modo a aguardar uma primeira sentença na Operação Malapata. Um pedido que foi rejeitado pelo colectivo de juízes responsável pelo caso.

Carlos Melo Alves pediu ainda a tribunal a inquirição do actual presidente do Famalicão, Miguel Ribeiro, à data director desportivo do Rio Ave. O ex-dirigente do clube, António Campos, também foi chamado ao banco das testemunhas pelo advogado. Pela segunda vez, o juiz negou o pedido à defesa de César Boaventura, considerando que as testemunhas não tiveram intervenção directa nos factos analisados. Melo Alves ainda protestou a decisão, alegando que o cliente estava a ser vedado do direito ao contraditório, mas o colectivo manteve a decisão.

De acordo com a acusação, Boaventura abordou Lionn com uma proposta de 80 mil euros que viria de Luís Filipe Vieira, a poucos dias de um jogo entre Rio Ave e Benfica. Para receber esta quantia, Lionn teria de "ser penalizado com um cartão amarelo na primeira parte, fazer propositadamente um penálti e ser expulso na segunda parte, batendo com a mão no chão". Os 80 mil euros seriam "pagos em notas de 500 depois do jogo".

Ministério Público pede pena exemplar

Neste processo são julgadas suspeitas de que o empresário César Boaventura terá aliciado os jogadores do Rio Ave Marcelo, Cássio e Lionn, bem como o maritimista Salin, em jogos contra o Benfica na temporada 2015/2016, época em que as “águias” conquistaram o tricampeonato. O Ministério Público (MP) acusou César Boaventura de três crimes de corrupção activa e um crime de corrupção activa na forma tentada.

O procurador do Ministério Público pediu a condenação por todos os crimes, considerando que César Boaventura deve receber uma pena que sirva de exemplo e seja uma dissuasão para casos semelhantes no futuro.

Já Carlos Melo Alves aponta as contradições nos depoimentos dos jogadores, relembrando que Cássio e Marcelo já tinham sido arguidos num outro caso que investigava a manipulação desportiva. "Esses depoimentos são suspeitos. Estes dois cidadãos têm aqui algum interesse porque estão a ser investigados noutro processo em que está a ser analisada a falsidade nos jogos de futebol", alega o advogado.

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