Rodopiar com sorrisos

Não adianta terraplanar as nossas circunstâncias com máquinas, ir com grandes tractores, que a vida só reage à subtileza, ao pequenino, a vida é artesanato.

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As personagens masculinas das novelas românticas que lia eram radicalmente diferentes do Antunes, e dos que se seguiram, na era pós-antuniana da São. Eram todos eles relativamente inclinados, uns mais do que outros, partilhando também outras duas características difíceis de conciliar, mas que eles tinham arte ou instinto para as fazer conviver no mesmo corpo: eram ao mesmo tempo xaroposos e brutos. Depois do Antunes, foi o Figueiredo, depois do Figueiredo foi o Silva, depois do Silva foi o Almeida, o único que não usava bigode: a São tentava remediar o peito com uns amores efémeros que não lhe entregavam mais do que uns arranhões na alma, ou na melhor das hipóteses umas cócegas na auto-estima. Não era suficiente, mas a São não sabia dizer o que lhe faltava, e aquelas relações eram o substituto possível de um amor: ir ao cinema e a boîtes, jantar fora num restaurante com nome estrangeiro.

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