Jornalista do Expresso retirado à força de evento com André Ventura

Um jornalista do Expresso foi retirado à força de um evento com o líder do Chega, organizado por estudantes da Universidade Católica Portuguesa, depois de ter sido autorizado a entrar.

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O evento realizou-se nesta terça-feira na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa Daniel Rocha
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Um jornalista do Expresso foi retirado à força nesta terça-feira, 16 de Janeiro, de um evento com o líder do Chega, André Ventura, que foi organizado por associações de estudantes da Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa. A informação é avançada numa notícia do próprio semanário, na qual condena a agressão ao jornalista, que terá sido agarrado “pelos pés e pelos braços” por estudantes que não o queriam no evento.

A Associação Académica do Instituto de Estudos Políticos da UCP (AAIEP), uma das entidades responsáveis pelo evento, refuta a acusação do jornal. Ao PÚBLICO, o presidente da AAIEP, João Dias, diz que o jornalista foi “​retirado”​ após vários pedidos para que saísse, uma vez que não era permitida a participação de profissionais de comunicação social. “Em nenhum momento existiu agressão”, diz João Dias.

O evento na UCP fazia parte de um ciclo de debates com vários líderes partidários, incluindo o líder do Chega, André Ventura. Na nota das associações da UCP sobre estes eventos, lê-se que o mesmo não é aberto à imprensa.

No entanto, o Expresso foi informado do evento pela assessoria de imprensa do Chega, numa mensagem partilhada num grupo de WhatsApp para jornalistas que cobrem o partido. Nesta nota, lê-se apenas que “não são permitidas câmaras dentro do auditório”.

O Expresso esclarece que a assessoria de imprensa do Chega sabia que o jornal ia estar na faculdade, embora o partido não tenha sido informado, especificamente, sobre a presença do jornalista dentro do auditório. O jornalista terá entrado no evento depois de este começar com autorização de duas estudantes.

O PÚBLICO tentou contactar a assessoria de imprensa do Chega para mais informações, mas não obteve informação até à hora de publicação deste artigo.

Num esclarecimento sobre o sucedido enviado pela Universidade Católica Portuguesa ao final da noite desta terça-feira, a instituição nota que “repudia qualquer tentativa de limitação do direito à informação e intimidação de jornalistas e lamenta profundamente a situação criada”. “Repudia também a manipulação deliberada das normas de acesso ao evento pelo partido convidado”, num documento assinado pela Direcção de Marketing e Comunicação da UCP.

O líder da AAIEP mantém que o Chega não tinha conhecimento da presença do jornalista do Expresso, que terá conseguido entrar durante a confusão inicial, e repete que o jornalista “não foi agredido”​, mas sim “retirado”. Não são avançados detalhes sobre a retirada.

O Expresso descreve a retirada forçada como uma agressão, com o jornalista a ser agarrado “pelos pés e pelos braços” e obrigado a abandonar o equipamento de trabalho, incluindo o computador profissional. Fora da sala, a intimidação terá continuado, parando apenas após a intervenção de um dos assessores de André Ventura, que devolveu o equipamento do jornalista.

Apesar de desmentir a existência de agressão, a AAIEP e a Associação Académica de Direito da UCP, que co-organizaram o evento, pedem desculpas pelo sucedido. Num email enviado à direcção do Expresso, partilhado com o PÚBLICO, as associações escrevem que repudiam o uso “excessivo de força no decorrer do evento Conversas Parlamentares” e pedem “as mais sentidas desculpas ao jornalista e ao jornal Expresso pelo sucedido”. A AAIEP sublinha a disponibilidade para qualquer esclarecimento.

A direcção do Expresso já avançou que vai tomar “as devidas acções, de forma a apurar responsabilidades”, e manifesta o "inequívoco apoio ao seu jornalista, que foi impedido de realizar o seu trabalho livremente".


Artigo actualizado às 00h25 de 17 de Janeiro: foi esclarecida a forma como o Expresso obteve informação sobre o evento e acrescentado o comunicado da Universidade Católica Portuguesa.

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