Identificadas variantes genéticas associadas ao comportamento bissexual

Os biólogos da evolução questionam-se há décadas como é que variações genéticas associadas ao comportamento homossexual masculino persistiram no genoma humano, uma vez que há menos descendentes.

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A genética desempenha um papel menor na determinação da orientação sexual, em comparação com factores ambientais MARIO CRUZ/EPA
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Uma equipa de investigadores da Universidade do Michigan (Estados Unidos) identificou variantes genéticas associadas ao comportamento bissexual humano, que apontam como distintas do comportamento exclusivamente homossexual.

O estudo, publicado na revista científica Science Advances e citado pela agência de notícias Efe, baseia-se na análise de dados de 452.557 participantes do sexo masculino no Biobanco do Reino Unido, todos de origem europeia. O artigo científico tem como título Variantes genéticas subjacentes ao comportamento bissexual humano são reprodutivamente vantajosas.

Os cientistas pensam que a orientação sexual é influenciada por uma combinação de factores genéticos e ambientais, e não por um só gene, como outras investigações já concluíram anteriormente. Por exemplo, em 2019, um estudo na revista Science tinha identificado cinco variantes no genoma humano “claramente” associadas a pessoas que relataram ter tido sexo com outras pessoas do mesmo sexo. Ou seja, não há um gene gay; há variantes genéticas em vários genes associadas.

No caso da origem genética, uma vez que o comportamento sexual entre pessoas do mesmo sexo não dá origem a descendência, os biólogos da evolução questionam-se há décadas como é que variações genéticas associadas à orientação homossexual masculina persistiram no genoma humano.

“O comportamento sexual entre indivíduos do mesmo sexo não é raro entre os animais, tendo sido observado em mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e invertebrados. Nas sociedades humanas, 2% a 10% dos indivíduos têm sexo com pessoas do mesmo sexo”, começa por dizer o artigo na Science Advances. “Como o comportamento sexual entre pessoas do mesmo sexo conduz a menos filhos, tem sido um quebra-cabeças evolutivo persistente por que razão a selecção natural não eliminou as variantes genéticas subjacentes”, lê-se ainda.

Conhecer a riqueza da sexualidade humana

Tentando responder a essa questão, a investigação da Universidade do Michigan identificou variantes genéticas exclusivamente associadas à bissexualidade masculina, além daquelas associadas exclusivamente à homossexualidade. Trata-se de variantes genéticas comuns a pessoas propensas a correr riscos.

“Descobrimos que há uma correlação genética positiva entre o comportamento bissexual nos homens e o número da descendência”, relatam os cientistas no artigo, que atribuem este “fenómeno inesperado” às tais variantes genéticas associadas à propensão para correr riscos. “O comportamento de risco nos homens tem uma correlação positiva com o comportamento bissexual e o número de descendentes”, refere o artigo.

Contudo, os autores reconheceram que a representação demográfica do grupo de estudo é limitada e enfatizaram que a genética provavelmente desempenha apenas um papel menor na determinação da orientação sexual, em comparação com factores ambientais. É ainda preciso dizer que se trata de um estudo de correlação entre vários factores e que, por isso, não estabelece uma relação de causa e efeito entre esses mesmos factores.

Os investigadores realçam também que os seus resultados contribuem predominantemente para a diversidade, riqueza e melhor compreensão da sexualidade humana: Não pretendem, de forma alguma, sugerir ou endossar a discriminação baseada no comportamento sexual, frisaram.

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