Na China, a IA ressuscita os mortos para um último adeus: são os griefbots

Os griefbots clonam a cara e voz de quem já partiu. Também há quem peça versões digitais de um ex ou de alguém com quem não falam há algum tempo.

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Com os griefbots as pessoas podem conversar com familiares que já morreram DR/Twitter

A China está a testar uma forma de recordar quem já morreu e prolongar o momento da despedida. A inteligência artificial (IA) foi a forma que várias empresas do país encontraram para ajudar pais, filhos, companheiros, avós e netos a lidar com a perda inesperada de um familiar. Os griefbots (bots do luto, em tradução literal) são cada vez mais procurados.

Yu Jialin, um engenheiro de software, pensou nesta possibilidade quando descobriu um programa que combinava os movimentos dos lábios com a voz de uma pessoa morta ou viva. Nessa altura, ocorreu-lhe que poderia voltar a ver e ouvir o avô que tinha morrido há cerca de dez anos. O resto da família tentava esquecê-lo, mas o jovem de 29 anos queria recordá-lo.

Tal como Yu, Seakoo Wu ansiava por voltar a ver o filho que morreu subitamente em 2022, com 22 anos, quando estudava no Reino Unido.

Por isso, sempre que visita a campa de Wu Xuanmo, pousa o telemóvel junto à lápide para ver e ouvir a mensagem gerada através de IA com o rosto do filho. “Sei que é muito difícil para ti. Gostava de estar ao teu lado todos os dias, todos os momentos, apoiar-te e dar-te força”, ouve-se.

Em declarações à Al Jazeera, Seakoo e a mulher explicaram que ainda não conseguiram tirar de casa os objectos do jovem e, na tentativa de superarem a perda, o pai começou a guardar os áudios que Wu enviava e depois contactou empresas de IA para clonar a cara e voz do filho.

A AI Super Brain é uma das muitas empresas especializadas neste tipo de serviços e, segundo o fundador, consegue criar um clone digital em 20 dias. Já o preço, varia entre os 1266 e os 2500 euros, explicou Zhang Zewei ao canal France 24.

No entanto, nem todos os clones são de pessoas que já morreram. Zhang Zewei disse que também recebe pedidos de pais que não vêem os filhos regularmente e querem uma versão digital para poderem conversar sempre que quiserem ou pessoas que acabaram relações e pedem um avatar dos ex-companheiros. Além de receberem vídeos, podem trocar mensagens com os griefbots e, no caso dos clientes da AI Super Brain, fazer videochamadas com os funcionários da empresa que, através de tecnologia, conseguem adoptar o rosto da pessoa que morreu em frente à câmara.

“Uma versão digital de alguém (pode) existir para sempre, mesmo depois de o corpo desaparecer”, destacou Zhang Zewei.

Seakoo está a tentar que o clone do filho seja a versão mais realista e aproximada do jovem, que fale e pense da mesma forma que ele e perceba através da voz e mensagens de texto que a pessoa com quem conversa é o pai.

Yu Jialin também não conseguiu que a versão digital do avô o reconheça, mas através de fotografias, cartas antigas e programas que gostava de ver, o engenheiro conseguiu “chegar a algum lado”, afirmou à Business Insider. Também já mostrou o clone à avó que observou atentamente o marido a responder às perguntas que lhe fazia e, antes de abandonar a conversa, agradeceu ao neto.

Depois de algum tempo a conversar com o clone do avô, Yu decidiu que estava na altura de o deixar ir.

Seakoo não está preparado para isso e tem como último desejo encontrar-se com o jovem no metaverso. “A tecnologia está a melhorar todos os dias. É apenas uma questão de tempo."

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