O Urso não morre

As mães são depósitos de infâncias, ficam com elas, são as mães que se lembram de todos nós quando nós não nos lembramos de sermos gente.

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Depois de ouvir a São contar o seu sonho, acrescentou a Alexandra, como se estivesse presente na altura, há mais a dizer sobre esse momento, São, há muito mais a não dizer sobre esse momento, escuta: O anjo falou a Maria e contou-lhe a história do seu filho. Mas o anjo não falou da infância do Senhor, ou seja, contou à Virgem toda a vida que ele teria, excepto esse período. Disse a Nossa Senhora: Ninguém falará da infância de Jesus porque essa infância será só tua, Maria, e de mais ninguém. O maior tesouro da humanidade é toda a sua infância, desde Adão ao último ser humano, e está contida na infância do Senhor e tu, Maria, conheces todas as crianças ao amar uma só. O maior tesouro, Maria, é teu. Disse a Alexandra: Em nova, tinha muito mais aparições. Dantes, levantava-me e aparecia-me Deus, a espreguiçar-se, coberto de anjos, depois bebia um copo de água salpicado com um pouco de vinho, que é sangue de Cristo, e vinham uns anjos a correr até aos meus pés, como cães, quando comia um doce, vinham enxames, tinha de os enxotar, mas agora, agora, São, tenho muito menos aparições, passo dias sem ter nenhuma, fico muito nervosa, sempre fui uma mulher repleta de Deus. É o que dá envelhecer. Mas voltando ao assunto que importa, as mães são depósitos de infâncias, ficam com elas, são as mães que se lembram de todos nós quando nós não nos lembramos de sermos gente, a infância de Deus levou-a Maria consigo, até acho que foi isso que a fez elevar-se aos céus, a infância foi um cavalo alado e por aí foi. Minha querida filha, meu futuro cadáver, faz sempre o gesto grandioso de lavar a cara pela manhã. A água fria nos olhos para inaugurar o dia. E segue em frente com sorriso de Gioconda. Ora sus.

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