Mercadona e generalizações à parte

Entre comentários e partilhas, não faltaram críticas à empresa, mas na sua maioria o principal alvo era o sector da distribuição na sua generalidade, que durante décadas suporta o rótulo negativo.

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Megafone P3: Mercadona e generalizações à parte Nelson Garrido/Público
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Uma reportagem coloca no centro de um furacão o grupo Mercadona. Em causa estão denúncias de práticas laborais pouco éticas, algumas entram no campo da ilegalidade, segundo os discursos extraídos de colaboradores, e ex-colaboradores da empresa.

O tema foi pouco abordado pela comunicação social, o que levou o debate a migrar para publicações nas redes sociais. Entre comentários e partilhas, não faltaram críticas à empresa, mas na sua maioria o principal alvo era o sector da distribuição na sua generalidade, que durante décadas suporta o rótulo negativo no que diz respeito aos direitos laborais e a falta de ética.

Não me cabe a mim, comum colaborador, fazer de advogado do diabo. Mas não posso ceder num debate de caixas de comentários, que já está enviesado pela narrativa corriqueira. Ao olhar para os comentários, fico com a ligeira sensação que estou perante ancinhos e archotes, onde aqueles cidadãos optam por recorrer à generalização, mas sem segurança nas ideias.

Todos nós, independentemente da nossa área profissional, já passámos por experiências menos positivas com uma ou outra pessoa que detém responsabilidades. É comum aparecer alguém que confunde as suas funções com o estatuto que lhe foi atribuído e por vezes ultrapassa os poderes que lhe foram conferidos.

Talvez o erro das empresas seja a manutenção deste perfil de pessoas, em vez de procurar substituir por alguém que tenha reais competências. O sector da distribuição não é diferente. Infelizmente é muito comum coabitar com pessoas que sofrem da “síndrome do rei sol” e ousam ir além do que deveriam. Felizmente não é uma prática tão generalizada como as caixas de comentários fazem transparecer, diria que a sua grande maioria.

Com dezanove anos de experiência no sector, não vou errar se disser que nunca tive oportunidade de bater com alguma figura menos conseguida no respeito, apesar de, indirectamente, ter conhecimento de algumas que trocam o respeito pela prepotência, mas não são maioritárias.

A questão das denúncias contra o grupo Mercadona é muito mais do que um simples chefe que ultrapassa as suas responsabilidades, estamos a falar de práticas institucionalizadas que entram pela porta grande da vida privada dos colaboradores. É uma questão muito mais arrojada, principalmente muito mais perigosa.

Este caso deve ser apurado e tem a obrigação de lançar uma reflexão séria no sector, e na forma como é observado por quem o vê de fora. Há uma necessidade de reatar os trabalhadores com as empresas e das mesmas se “divorciarem” das personae non gratae. Mas para que isso aconteça, é essencial que as autoridades competentes tenham tolerância zero com as práticas denunciadas.

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