O melhor dia das nossas vidas

Aterrou em cima dela e finalmente consumou-se o matrimónio, ritual que durou uns parcos minutos e executado como quem dá pontapés a móveis.

Ouça este artigo
00:00
02:01

Sou eu, disse o vulto no vão da porta. Chegou o nosso Carlitos, disse o Severo, voltou o meu filho, dá cá um abraço, Carlitos, dá cá um abraço. A São olhou para ele com alegria genuína. Correu para o marido, agarrou-o e beijou-o. “Em cada esquina um amigo”, ouvia-se, “em cada rosto igualdade”, ouvia-se. Sou eu, repetiu o Urso, voltei. Que felicidade, Carlitos, disse o Severo, voltaste, vai ser tudo muito melhor a partir de hoje, este dia é um milagre. “Jurei ter por companheira”, ouvia-se. A São afastou-se para que o Severo abraçasse o filho. O Urso estava cada vez mais Urso e cada vez menos Carlos. O Urso era agora um Urso de pedra e faca. Empurrou a cadeira de rodas do pai com o pé, afastando-o e levou a São para o quarto.

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.
Sugerir correcção
Comentar