Como será a televisão daqui a um par de anos? Eis algumas pistas dos Estados Unidos. Da televisão linear, com um pacote de canais a chegar pelo cabo, antena ou satélite, com uma grelha pré-determinada de programas, fez-se a passagem para o streaming, para os catálogos de programas e a possibilidade de devorar todos os episódios de uma série num fim-de-semana.

Portugal também tem feito essa passagem, como tem contado a Joana Amaral Cardoso, embora a comercialização em pacote de serviços de televisão e de Internet pelas operadoras de telecomunicações mantenha os portugueses muito agarrados ao cabo. Ainda que plataformas como a Netflix e o Disney+ tenham crescido muito durante a pandemia, e ainda que RTP, SIC e TVI tenham desenvolvido os seus próprios serviços de conteúdos online (no caso da RTP, gratuito).

Os Estados Unidos entraram no capítulo seguinte: é tamanha a multiplicação de plataformas que o mercado está hoje saturado. À Netflix, Disney+, Apple TV+, Max (ex-HBO) e outros serviços de streaming também disponíveis em Portugal, somam-se aqui Hulu, Peacock, Paramount+ e outras plataformas, engordadas com a transmissão das principais ligas desportivas. Se o espectador português pode ver as principais competições em dois canais pagos e outros tantos gratuitos, o norte-americano poderá ter de subscrever quatro, cinco ou mais plataformas para seguir a equipa favorita.

O televisor moderno assemelha-se cada vez mais a um computador, com um mini-sistema operativo a albergar dezenas de aplicações de streaming.

Não há dinheiro para tudo, evidentemente. A atomização de plataformas pagas de conteúdos redundou na famosa fadiga de subscrição. Depois de alguns anos de investimentos multimilionários no streaming, chega agora a era da consolidação.

A Max (ex-HBO) absorveu os conteúdos do Discovery+ (documentários e reality-shows) e ensaia uma mensalidade partilhada com a Netflix (que pondera entrar no mercado das transmissões desportivas), a ser comercializada pela Verizon, uma das principais operadoras de serviços móveis dos Estados Unidos. A Disney+ prepara a fusão efectiva da sua plataforma com a Hulu, com quem já partilha subscrição (tal como com o ESPN+, centrado no desporto). A Paramount+ absorveu a Showtime.

Nos últimos dias, foram também notícia as negociações em curso entre a Apple e a Paramount para outro bundle, outra subscrição conjunta das suas plataformas de streaming, que juntariam as séries de prestígio da Apple ao desporto, notícias e filmes da Paramount. Outros anúncios estarão para breve.

Os grandes grupos de comunicação e entretenimento norte-americanos perceberam que o dinheiro dos espectadores não estica, nem sobretudo o dos anunciantes. A velha televisão linear, por cabo e satélite, que oferece um menu completo de notícias, desporto e entretenimento, continua a ser mais rentável do que as plataformas de streaming. É provável, por isso, que a grande consolidação em curso acabe por replicar partes desse antigo modelo e que, no futuro, uma subscrição da Netflix também ofereça notícias e desporto em directo, e que com um catálogo de séries e de filmes, seus e dos actuais concorrentes, coexista também uma lista de canais de televisão.

Será certamente mais conveniente, menos labiríntico. Só não apostem que fique mais barato.