União das Misericórdias vai a votos com duas listas pela primeira vez em 15 anos

Manuel Lemos e António Sérgio Martins disputam a direcção nacional da UMP. Instituições apoiam 165 mil pessoas por dia.

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O apoio prestado pelas misericórdias assenta, sobretudo, em duas áreas: apoio social e cuidados de saúde Nuno Ferreira Santos
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A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) vai a eleições na próxima quarta-feira. E, pela primeira vez em mais de 15 anos, há duas listas concorrentes. De um lado, o actual presidente do organismo, Manuel Lemos, eleito há 15 anos mas ainda disposto a cumprir o quinto e último mandato possível à frente da instituição. Do outro lado, o actual presidente do secretariado regional de Coimbra e provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pampilhosa da Serra, António Sérgio Martins.

Em causa estão os votos de 388 misericórdias activas em Portugal, espalhadas de norte a sul e ilhas, que apoiam diariamente cerca de 165 mil pessoas, e que contam com mais de 45 mil trabalhadores directos, segundo informação disponível no site da UMP.

Os dois candidatos à direcção nacional concordam em alguns dos problemas, mas diferem nas soluções. Manuel Lemos, o actual presidente e à frente do organismo há quatro mandatos, assume que aceitou ir a votos "porque houve uma enorme insistência de um número muitíssimo significativo de provedores" que lhe pediram para continuar, depois de verem aparecer uma segunda lista que "não lhes merecia confiança".

"Achei que valia a pena, até porque vamos viver momentos muito difíceis nos próximos tempos e acredito que a minha experiência e da minha equipa podem ser muito importantes para ajudar as Misericórdias, o sector e as pessoas de quem cuidamos e de quem podemos vir a cuidar", disse Manuel Lemos, em declarações à Lusa.

Para o actual presidente da UMP, o principal desafio passa por reforçar o sector social, apontando que o Estado não tem conseguido responder a todos os problemas que se colocam, enquanto o sector social, pela sua flexibilidade e capacidade de adaptação, tem conseguido dar resposta de forma rápida.

Apontou que será um "desafio muito grande" ajudar as pessoas a ultrapassarem a crise actual e disse acreditar que, cada vez mais, a sociedade irá precisar da intervenção das misericórdias.

Deu como exemplo o aumento do salário mínimo para defender que as misericórdias têm de se modernizar e saber dar resposta a novos fenómenos sociais, como é o caso das pessoas que trabalham e são pobres ou do número crescente de imigrantes que chegam ao país e precisam de apoio.

"São, eu diria, problemas velhos vistos de uma forma moderna e diferente, porque o mundo à nossa volta está a mudar e nós não podemos ser velhos", apontou Manuel Lemos, sublinhando que essa foi a fórmula que fez com que as misericórdias, nos seus mais de 500 anos, "não fossem arrumadas no baú da história".

Referiu, por outro lado, que a sustentabilidade das instituições é um "problema sério de todos os portugueses", razão pela qual disse que é preciso exigir do Estado que pague "o preço justo do custo das respostas sociais".

Relativamente ao facto de haver uma segunda lista a concorrer nestas eleições, Manuel Lemos recusa que isso seja sinónimo de divisão, apontando, no entanto, que se trata de uma equipa com "uma visão diferente".

Na visão de António Sérgio Martins, actual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Pampilhosa da Serra e à frente da Lista B — "Devolver a UNIÃO às Misericórdias", a degradação do sector social e, em particular, das misericórdias, "é evidente" e é preciso perceber a razão por que isso acontece.

Aponta que a "marca misericórdia está ferida de morte" e vaticina que se nada for feito, estas instituições caminham a "passos muito curtos" para o "abismo", acusando a actual direcção nacional de "incoerência", já que em alguns momentos disse que o Estado pagava o que era preciso e noutros que se não houvesse aumento das comparticipações as misericórdias colapsavam.

Para António Sérgio Martins, essa "falta de coerência" levou a que também o Governo deixasse de acreditar na UMP e propõe-se a trazer para o organismo uma "visão mais moderna e pragmática", assente em quatro pilares: transparência, previsibilidade, igualdade e proximidade.

Desde logo apontou que é preciso resolver o "problema de sustentabilidade do sector", dizendo ao Governo, "com coragem", que tem de pagar pelos serviços prestados, chegando à comparticipação de 50% dos custos.

Em termos de financiamento, defende também que possa vir a ser criada uma lei de financiamento do sector social, que garanta previsibilidade no financiamento estatal.

Traz também propostas para devolução do IVA às misericórdias, benefícios fiscais na compra de carros eléctricos ou discriminação positiva no pagamento da taxa social única.

Relativamente à questão da transparência, disse não compreender como é que a própria UMP desenvolve respostas sociais e defendeu que seja feita uma revisão "urgente" dos estatutos.

António Sérgio Martins criticou ainda o facto de estas eleições decorrerem a uma quarta-feira, "à hora de almoço", algo que, segundo o próprio, acontece pela primeira vez, apontando que é "claramente uma tentativa de condicionar" o resultado eleitoral.

O apoio prestado pelas misericórdias assenta, sobretudo, em duas áreas: apoio social e cuidados de saúde, através de "uma vasta rede de equipamentos que asseguram respostas adequadas às comunidades onde estão inseridas", e que abrangem desde respostas para a infância, pessoas com deficiência ou idosos, informa a UMP.

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