Polícia espanhola investiga morte de migrantes forçados a atirar-se de lancha ao mar

Traficantes usam lanchas rápidas e mais caras para o transporte de migrantes para a costa europeia.

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Autoridades espanholas investigam desembarque de migrantes REUTERS/Borja Suarez
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Quatro migrantes morreram, em Cádis, Espanha, depois de terem sido atirados de uma lancha onde seguiam com mais 23 pessoas, quando tentavam chegar à costa numa praia naquela cidade, durante uma forte tempestade de chuva e vento.

Numa táctica que, segundo a Frontex, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira, citada pelo jornal The Guardian, se está a tornar cada vez mais comum, as pessoas que morreram na quarta-feira faziam parte de um grupo de 27 passageiros que foram atirados ao mar perto da praia de Composoto. Outros oito migrantes tinham sido lançados ao mar junto à praia de Sancti Petri, também na cidade de Cádis.

Ainda segundo o diário britânico, os 35 tripulantes eram imigrantes que vinham do Norte de África. Entre as pessoas que foram atiradas ao mar estariam seis crianças. Além das quatro vítimas mortais, quatro pessoas foram hospitalizadas por hipotermia.

Javier González, que gere uma empresa que oferece aulas de windsurf naquela região de Espanha, disse ao jornal que viu “um barco de tráfico de droga a chegar, mas não estavam a traficar droga, mas imigrantes. De repente, eles começaram a saltar e alguns foram atirados”. O homem ajudou a resgatar oito pessoas. “Uma delas disse-nos que lhe apontaram uma arma e lhe disseram que ou saltava ou disparavam sobre ele”, explicou ao jornal.

Barcos mais rápidos e mais caros

Num relatório interno da Frontex, a que o jornal El País teve acesso, é explicado que estas embarcações são diferentes das que habitualmente são usadas para o transporte de migrantes para a costa europeia. Trata-se, sobretudo, de lanchas rápidas, usadas muitas vezes para o transporte de droga e preparadas para sair do local onde são largadas as pessoas de uma forma mais rápida. No relatório da autoridade europeia é explicado que os condutores destas embarcações “usam a força, obrigando os migrantes a deixar o barco ou a atirarem-se ao mar”, de forma a desaparecerem dos radares rapidamente por se tratar de embarcações mais caras e mais potentes do que as tradicionais.

“[Os traficantes] não hesitam em pôr em perigo a vida dos migrantes para evitar a detenção. Num desses incidentes, duas pessoas afogaram-se porque não sabiam nadar, depois de terem sido obrigadas a saltar para o mar para chegar à costa. Noutro incidente, um migrante foi encontrado morto, presumivelmente devido a ferimentos sofridos antes e durante a travessia”, refere o relatório da Frontex a que o jornal espanhol teve acesso. “De acordo com os migrantes, os condutores pressionam as pessoas para desembarcarem mais depressa”, lê-se no relatório. Num dos incidentes, os migrantes foram ameaçados com facas para evitar que fossem detectados pelas autoridades”, acrescenta.

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