A prova de vida ou de dependência do CDS

É estranho que Nuno Melo admita a possibilidade de o CDS ir a votos coligado com o PSD, mendigando uma mãozinha ao PSD e optando pelo caminho mais fácil para si e mais prejudicial para o partido.

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As próximas eleições legislativas são cruciais para o futuro do CDS, portanto ir a votos coligado com o PSD é meio caminho andado para a emissão da sua certidão de óbito.

Um partido como o CDS faz falta a Portugal, desde que consiga recuperar a confiança do seu eleitorado tradicional que se encontra órfão ou procurou “abrigo” noutros partidos, voltando a ser um partido fiel aos seus princípios fundacionais como nunca deveria ter deixado de ser e recuperando bandeiras que deixou cair e foram bem aproveitadas por outros.

Francisco Rodrigues dos Santos ainda tentou reencaminhar o CDS para o rumo que se impunha, mas foi confrontado com uma oposição e boicote internos sem precedentes que levaram o partido à irrelevância política. Neste caso, o fogo amigo feriu de morte um grande partido da história da nossa democracia.

Será incompreensível que o CDS, na circunstância em que se encontra, volte a encostar-se ao PSD para tentar sobreviver, pois apenas servirá para garantir lugar a um ou outro dirigente e levará à extinção natural do partido.

A IL já veio dizer que não fará qualquer coligação pré-eleitoral, deixando claro que não quer ser bengala do PSD e continuará a fazer o seu caminho com identidade própria, não caindo no erro que o CDS caiu no passado. Optou por não andar à sombra da bananeira, nem do PSD, escolhendo um rumo tão difícil quanto aliciante que certamente, mais tarde ou mais cedo, dará frutos.

É estranho que Nuno Melo tenha vindo agora a público admitir a possibilidade de o CDS ir a votos coligado com o PSD, mendigando uma mãozinha ao PSD e optando pelo caminho mais fácil para si enquanto líder e mais prejudicial para o partido que, desta forma, abandona definitivamente o campeonato da IL e desce para o campeonato do PPM.

O CDS deveria fazer o seu caminho, recuperar a sua identidade, apresentar o seu próprio projeto para o país, em vez de algumas ideias avulsas e dar a conhecer uma equipa renovada com alguns quadros de reconhecido valor, em vez de uma a cheirar a mofo, disponível para trabalhar em prol do partido, mas sobretudo de Portugal. Só desta forma poderá ambicionar sair do estado de coma em que se encontra.

Esta poderá ser a última oportunidade para saber quanto vale realmente o CDS, neste momento. Aliás, lembro-me que muitos dos seus atuais dirigentes, nas últimas legislativas, foram contra uma possível coligação com o PSD.

Na altura dedicavam o seu tempo a fazer oposição à anterior direção no tempo de antena que ainda tinham. Agora, sentam-se no Caldas, à volta de uma mesa, sob a liderança do seu eterno líder, Paulo Portas, que nas últimas legislativas se colocou propositadamente à margem do partido, e de alguns dos seus delfins, nomeadamente dois que nem militantes são, Adolfo Mesquita Nunes e Francisco Mendes da Silva, a definir a estratégia para o futuro do CDS com a total anuência de Nuno Melo, líder eleito no último congresso.

Depois de contados os votos, se o CDS sozinho conseguisse eleger deputados, poderia então ser útil a um acordo pós-eleitoral; até lá, impunha-se a afirmação do partido como representante da direita moderada em Portugal.

Apesar de já não ser militante do partido e de não me rever na atual direção, gostava imenso de ver o CDS crescer e regressar ao palco de onde nunca deveria ter saído. Continuo convicto de que a direita moderada e conservadora nos princípios e valores continua órfã em Portugal.

Tenho pena, por confirmar que nada mudou no partido e que a atual direção é incapaz de o salvar.

As próximas eleições legislativas serão, com certeza, a prova de vida ou de dependência do CDS.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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