Mais de cem sítios patrimoniais foram danificados ou destruídos devido aos bombardeamentos em Gaza

Um relatório da organização não-governamental Heritage for Peace enumera mesquitas, igrejas, locais arqueológicos e portos marítimos atingidos pelos bombardeamentos israelitas.

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Mesquita destruída em Khan Younis, em Gaza, logo após o início dos ataques israelitas IBRAHEEM ABU MUSTAFA/Reuters
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Um relatório preliminar da Heritage for Peace, uma organização não-governamental espanhola, revelou que mais de cem sítios patrimoniais e locais históricos de Gaza foram destruídos desde o dia 7 de Outubro, em resultado dos bombardeamentos israelitas. A informação foi divulgada a 7 de Novembro, um mês após o início da guerra actualmente em curso entre Israel e o Hamas.

O território de Gaza é um verdadeiro melting pot cultural por abrigar vestígios de várias civilizações, dos egípcios aos gregos, que influenciaram a região ao longo dos séculos. Mas toda essa herança cultural parece estar em risco perante a destruição dos museus e dos locais arqueológicos e religiosos daquela faixa. Citado pelo Art Newspaper, o presidente da Heritage for Peace, Jehad Yasin, refere que, embora o território seja pequeno, contém "muito património" e que este relatório vem provar o quão importante é protegê-lo.

Desde o dia 7 de Outubro, várias mesquitas históricas foram danificadas ou destruídas na sequência dos ataques lançados pelas Forças de Defesa de Israel. O relatório enumera que a mesquita Omari, "uma das mais importantes mesquitas da Palestina", a mesquita Ibn Uthman e a mesquita Sayed Hashem ficaram completamente destruídas e que a igreja de São Porfírio, considerada a terceira mais antiga do mundo, ficou danificada.

As autoridades palestinianas terão ainda sido alertadas para os danos infligidos nos museus de Rafah e de Deir al Balah. O fundador do Museu Al Qarara, Mohammad Abulehia, disse por sua vez que o edifício e a colecção sofreram danos significativos depois de uma casa adjacente ter sido atingida por um míssil. "Criei o museu para proteger e preservar o património cultural tangível e imaterial de Gaza", afirmou, acrescentando que "o que resta da colecção está agora em perigo". E deixou um alerta: "Não há um lugar seguro em Gaza."

Também um cemitério com dois mil anos, descoberto no ano passado no Norte de Gaza, e no qual foram encontrados dezenas de sepulturas antigas e dois sarcófagos raros, foi "completamente destruído". Jehad Yasin diz não ter informação acerca do estado em que se encontram os sarcófagos, mas admite que, se estiverem destruídos, se perderá "uma página da História" da Palestina.

Do conjunto de locais danificados pelos ataques israelitas consta um dos três sítios de Gaza que integram a Lista Provisória do Património Mundial da UNESCO: o porto de Anthedon, considerado o primeiro porto marítimo conhecido daquele território.

A destruição em Gaza afectou ainda os projectos de investigação em curso sobre os sítios arqueológicos marítimos do território, nomeadamente o Projecto de Arqueologia Marítima de Gaza (Gazamap), levado a cabo pela Universidade de Southampton e pela Universidade de Ulster em parceria com a Universidade de Oxford. O objectivo do projecto era analisar e estudar locais costeiros como Tell Ruqaish e Tell es-Sakan, que abrigam dados arqueológicos importantes.

Segundo o Ministério do Turismo e Antiguidades de Gaza, ainda não é possível saber as condições em que se encontram estes edifícios. “Neste momento, é urgente parar esta guerra e, assim, poderemos encontrar uma maneira de resolver os problemas com a ajuda da comunidade internacional”, diz Jehad Yasin. “Há muitas maneiras de resolver estes problemas. No mínimo, de acordo com o direito internacional, temos de preservar este património cultural, porque não é apenas património cultural palestiniano; é património mundial”, sublinha.

Também um porta-voz da UNESCO disse ser ainda "muito cedo para fornecer uma estimativa clara dos danos no património cultural".

O conflito ente Israel e o movimento palestiniano Hamas já provocou, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, a morte de mais de 14.500 palestinianos, incluindo 4600 crianças.

Texto editado por Inês Nadais

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