Arquitectos portugueses vencem concurso para renovar e ampliar Biblioteca de Genebra

O projecto, que propõe uma zona de arquivo enterrada, a reabilitação do edifício original oitocentista e a criação de dois novos corpos voltados para o Parc des Bastions, ganhou por unanimidade.

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Projecto do atelier português VASSCO, ACE que venceu o concurso para a renovação e ampliação da Biblioteca de Genebra, com a futura cafetaria em primeiro plano DR
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Projecto do atelier VASSCO, ACE para a Biblioteca de Genebra. Entrada do edifício DR
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Projecto do atelier VASSCO, ACE para a Biblioteca de Genebra. Sala de leitura DR
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Projecto do atelier VASSCO, ACE para a Biblioteca de Genebra DR
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O atelier VASSCO, ACE, um consórcio formado pelos arquitectos portugueses Patrícia Marques, Paulo Costa, João Ventura Trindade, Pedro Oliveira e Luís Maria Gonçalves, venceu, em associação com a Adão da Fonseca – Engenheiros Consultores, um importante concurso internacional para a renovação e ampliação da biblioteca de Genebra, uma obra orçada em 130 milhões de francos suíços (cerca de 134 milhões de euros), que deverá arrancar em 2027 e cuja conclusão está prevista para 2034.

O júri destacou os seis primeiros classificados no concurso, ao qual concorreram 53 equipas multidisciplinares de arquitectos e engenheiros europeus, e Paulo Costa, que falou brevemente com o PÚBLICO esta terça-feira ao final do dia – a partir de Genebra, onde participava na cerimónia de entrega dos prémios –, observou que, à excepção do consórcio português, todos os outros premiados são ateliers suíços.

O projecto que convenceu o júri, presidido pela arquitecta suíça Doris Wälchli, prevê a construção de uma zona de arquivo quase totalmente enterrada com cinco andares, a que se soma um sexto destinado a servir de abrigo de protecção civil. Este novo depósito permitirá reunir num só local colecções de livros e documentos hoje dispersos por vários locais e libertará o edifício existente – um conjunto arquitectónico oitocentista que “foi bastante maltratado no século XX”, diz Paulo Costa –, possibilitando a sua reabilitação e ampliação.

“Os espaços nobres do edifício histórico restaurado são devolvidos ao público”, diz um comunicado do município de Genebra, que promoveu o concurso. “A biblioteca é concebida como um local de estudo, encontro e intercâmbio, acessível ao público e aberto ao parque, propício à implantação da sua programação cultural e científica”.

Mas o detalhe que pode ter dado a vitória aos cinco arquitectos portugueses e ao engenheiro Pedro Morujão, da Adão e Fonseca, é o projecto de construção de dois novos pavilhões envidraçados um deles acolherá uma cafetaria , criando uma relação mais intensa entre a Biblioteca e o Parc des Bastions, um grande parque natural histórico em pleno centro da cidade. “Creio que foi o ponto mais forte do nosso projecto, e que nos fez ganhar o concurso”, admitiu ao PÚBLICO o arquitecto do atelier VASSCO, ACE.

O comunicado do júri parece confirmá-lo. “A decisão dos autores do projecto (intitulado Larnage) de substituir os dois anexos que imitavam a arquitectura neo-clássica, e que datam respectivamente de 1957 e 1987, por dois novos pavilhões contemporâneos, leves e transparentes, soube seduzir o conjunto do júri”. Elogiando o modo como estes dois corpos “abrem a Biblioteca ao parque e à cidade”, o texto sublinha que “esta nova identidade vai permitir à Biblioteca de Genebra ultrapassar o seu estatuto de património do passado para se ancorar plenamente no presente e irradiar para o futuro”.

Os projectos concorrentes, incluindo naturalmente o vencedor, vão agora ficar expostos no Forum Faubourg, um espaço onde são habitualmente apresentados aos habitantes de Genebra os projectos que resultam de concursos de construção lançados pelo município.

Para Paulo Costa, este concurso que agora venceu com os seus colegas confirma a proverbial eficiência suíça. “Tivemos seis meses para preparar a candidatura, e em cinco semanas ficamos a saber quem ganhou”, conta.

Concretizar o projecto é que vai demorar um pouco mais, mas há boas razões para isso, observa o arquitecto. “O trabalho de escavação para a construção do novo edifício das reservas é muito complexo e muito delicado”, explica, e só depois de este estar concluído é que o acervo actual da Biblioteca será transferido e poderá iniciar-se a segunda fase dos trabalhos, com a reabilitação do edifício – construído entre 1868 e 1873, num estilo neo-clássico, pelos arquitectos Jean Franel e Francis Gindroz – e a edificação dos dois novos pavilhões.

“É uma obra para sete anos”, confirma, acrescentando que o projecto está a ter “uma óptima recepção” em Genebra, onde este concurso teve grande visibilidade. “Estão muito interessados em que sejamos nós a concretizar o projecto, para não haver alterações”, conclui.

Fundada no século XVI e beneficiária de depósito legal, a Biblioteca de Genebra tem um acervo de cerca de dois milhões de espécies documentais e um conjunto de mais de quatro milhões de imagens relativas à cidade e à região envolvente. Os arquivos que possui do genebrino Jean-Jacques Rousseau – Mme de Larnage (evocada no título do projecto português) foi uma das grandes paixões do autor das Confissões – estão inscritos na Memória do Mundo da UNESCO, e a sua colecção de obras de Voltaire e a ele dedicadas passa por não ter rival.

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