Cartas ao director

As cartas escritas pelos leitores de dia 22 de Novembro

Generais, infantaria e... companhia

O título é muito castrense, embora a terceira palavra seja polissémica. De qualquer modo, as duas primeiras foram-me dadas pelo PÚBLICO (20/11) ao assim classificar as “tropas” de José Luís Carneiro e Pedro Nuno Santos na disputa para secretário-geral do PS.

Quanto à companhia, essa é da minha lavra — pois tanto pode sugerir acompanhamento, como formação militar —, usando-a a meu bel-prazer, mais no primeiro sentido, pois é esse que me interessa. Porquê? Pois, porque, embora a leitura seja feita num campo de batalha socialista, nela procuro soldados de vária patente para saber quem é quem, sabendo com quem está, numa versão do popular diz-me com quem andas para saber quem és.

E aqui — depois de observar a surpresa da ambivalência de Francisco Assis — o que se me deparou foi mais a ausência de alguns nomes que estarão com Daniel Adrião ou ausentes de todo, numa estranha independência. E aqui relevo o de Manuel Pizarro, ministro da Saúde, e que julguei encontrar algures no generalato de um dos lados e nada! Com um currículo partidário de relevo e no “olho do furacão do SNS, estranho vivamente a sua ausência do organograma publicado no jornal.

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

Manual de boas práticas para um primeiro-ministro

No ponto em que vai esta “procissão” já vai é possível tirar algumas ilações. E a primeira é muito simples: o primeiro-ministro aplicou a si próprio um rigor demissionário que não quis infligir aos membros do seu Governo que, por qualquer motivo, deixaram de ser impolutos aos olhos dos portugueses. E reparem que não digo oposição, porque essa faz o seu papel dramatizando tudo, às vezes de forma ridícula.

Porque um primeiro-ministro pode pedir um certificado de registo criminal à entrada da porta do governo, mas não está na sua mão controlar as asneiras que cada um faz depois. Mas pode atalhá-las de forma rigorosa, quando delas tem conhecimento. Até pode despedir um membro do governo impoluto por se ter revelado uma má escolha. Qual é o drama?

Porque os portugueses de bom senso preferem sempre a estabilidade parlamentar, que lhes foi inopinadamente tirada numa série de precipitações, tanto do primeiro-ministro como do Presidente da República, cujo legado, além das selfies, será sem dúvida, o ter conseguido dissolver uma AR com uma maioria parlamentar unipartidária a meio da legislatura.

José Pombal, Vila Nova de Gaia

Ilegitimidade de greves e da não aplicação da leis​

Não é legítimo, do ponto de vista ético e deontológico, que os agentes da Saúde façam greves com que contribuem para o sofrimento dos utentes. Mas mais ilegítimo é que um agente legislativo (o Governo) não cumpra as leis para cuja formulação contribuiu. Com efeito, antes que, no caso concreto dos médicos, se censure a necessidade de privar os pacientes de acompanhamento médico, é inexoravelmente imperativo que a causa dessa privação seja eliminada à partida.

Isto é, corrigir a obrigação de cumprir horas extraordinárias sem um cumprimento da base legal vigente. Com efeito, apresenta-se-nos uma ordem de gravidade: em primeiro lugar, a ilegitimidade de não aplicar as leis vigentes, por parte de um governo; em segundo lugar (antes do que se refira às greves na Saúde), a gravidade de não haver uma entidade que impeça que um governo não aplique as leis vigentes; em terceiro lugar, a opção de alguns médicos por contribuírem, contra o seu dever primordial, para o sofrimento de seres humanos (neste caso, sem a intervenção da Ordem dos Médicos, cuja obrigação é agir no campo da deontologia).

Corte-se o mal pela raiz; apliquem-se as leis.

Luís Filipe Salgado Pereira Rodrigues, Santo Tirso

Quem se lembra de Francisco Sanches?

A pergunta impõe‑se. Neste ano corre, com efeito, o quarto centenário da morte de Francisco Sanches. Pois bem. Nos jornais de referência, não li uma linha sequer sobre a sua obra. Por que motivo será? Por ser controversa a sua nacionalidade? Há quem o considere galego, de facto. Mas talvez seja outra a razão…

Entre nós, tristemente, os filósofos não abundam. Os mais ilustres, aliás, ou foram nascer fora de Portugal (veja‑se o caso de Espinosa, de ascendência luso‑judaica), ou morreram longe da pátria. Como exemplo deste último destino, urge lembrar a grandeza humanística da figura de Francisco Sanches. Tendo falecido em Toulouse, em cuja universidade leccionou Medicina e Filosofia, foi sempre um espírito inquieto (precursor, até, segundo alguns, do imortal Descartes).

Seja como for, merece, por certo, a nossa homenagem — neste mês do seu passamento (ocorrido em 16 de Novembro de 1623) — o autor do Quod Nihil Scitur. Que nada se saiba, ao que parece, sobre as devidas comemorações oficiais e académicas, eis o que só temos de lamentar numa terra que pouco ama o saber…

Eurico de Carvalho, Vila do Conde

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