Feitos e sonhos dos portugueses no ataque ao DP World Tour 2024

Ricardo Melo Gouveia e Pedro Figueiredo são os representantes nacionais no principal circuito europeu de profissionais

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Ricardo Melo Gouveia a selar a vitória a 16 de Outubro no Hainan Open, na China © Challenge Tour
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Dificilmente encontrar-se-ão no golfe mundial dois melhores amigos do que Pedro Figueiredo e Ricardo Melo Gouveia e serão eles a representarem Portugal no DP World Tour de 2024, cuja temporada arranca já esta quinta-feira, na África do Sul. 

Cúmplices de longa data, desde os sub-12, um relacionamento que se estende às suas famílias. Provavelmente, ainda antes de um ser chamado de ‘Figgy’ e o outro apelidado de ‘Melinho’, alcunhas que resistiram a carreiras paralelas, nas quais ambos foram craques amadores nacionais e internacionais, cotaram-se como figuras das suas equipas universitárias norte-americanas e depois atingiram alguns pontos altos enquanto profissionais, do que poderemos chamar de um segundo patamar da elite europeia. 

É certo que nenhum deles ganhou ainda qualquer título no DP World Tour (ex-European Tour), como fizeram no passado Daniel Silva, Filipe Lima e Ricardo Santos, mas recentemente alcançaram marcas que destacaram-nos a nível europeu. São também os dois melhores portugueses no ranking mundial, com Melo Gouveia em 350.º e Figueiredo em 720.º. 

Pedro Figueiredo alcançou um feito inédito no golfe nacional e muito provavelmente também a nível internacional. O DP World Tour não tem registos históricos dessa estatística, mas não é fácil haver outro jogador a passar a Escola em três edições seguidas, como ele fez em 2019, 2022 e 2023. Devido à pandemia, não houve Escola em 2020 e 2021. 

Pedro Figueiredo © PF

“O rei da Escola”, escreveu nas redes sociais Tomás Melo Gouveia, que também jogou a Final em 2023, mas não conseguiu o tal top-22 (e empatados), pelo que irá jogar em 2024 no Challenge Tour. “King of Q-School”, concordou no Instagram o membro da seleção amadora da FPG, João Pereira. “Legend”, ripostou o jogador profissional alemão Sean Einhaus. 

“Vim três vezes a esta Final e superei-a três vezes. Acho que os dois campos (Hills e Lakes do Infinitum Golf Resort, ex-Lumine) ajustam-se ao meu jogo. Mas, para além disso, eu encaro esta prova da seguinte forma: o que acontecer, acontece. Se for para o Challenge Tour, assim será. Se não passar, paciência. Tento ir com esse estado de espírito porque é muito fácil colocarmo-nos sob enorme pressão. E a verdade é que são semanas em que, na maior parte das vezes, sinto-me descontraído. É bom, porque é uma semana longa, é preciso ser-se paciente e já funcionou por três vezes. Espero não ter de voltar, mas se tiver, espero que continue a dar resultado”, explicou a GolfTattoo, algumas horas depois de ter sido 22.º (-14) em Tarragona. 

A proeza de Ricardo Melo Gouveia não foi o seu 10.º lugar na Corrida para Maiorca. Fez bem melhor em 2015, em Omã, quando fez a sempre desejada ‘dobradinha’ de vencer simultaneamente o Ranking e a Grand Final do Challenge Tour. Uma ‘dobradinha’ que, não sendo rara, é bem difícil e só foi alcançada dez vezes. 

A façanha do profissional da Quinta do Lago foi outra e consistiu em conquistar mais dois títulos do Challenge Tour, no Abu Dhabi e na China (Hainan). Só quatro jogadores lograram dois troféus esta época, na segunda divisão europeia, mas na sua carreira totaliza agora sete títulos, entre 2014 e 2023. 

Passa a ser o segundo mais premiado de sempre neste circuito, empatado com o britânico Warren Bennett (entre 1995 e 1998). Só outro inglês, Lain Pyman tem mais, com oito vitórias (entre 1999 e 2008). Já agora, diga-se que Filipe Lima ocupa uma honrosa sétima posição na lista de campeões do Challenge Tour, com os seus cinco sucessos entre 2004 e 2019). E o português residente em França tem ainda um recorde oficioso de ser o único a subir por três vezes ao European Tour via Challenge Tour (2004, 2009 e 2016). 

“Estou muito feliz de ter recuperado o meu cartão. Foi uma época longa, mas bastante positiva no geral. Senti que poderia ter sido mais consistente, mas tive duas vitórias de estou bastante contenta da forma como a época terminou. O meu objetivo no início do ano era recuperar o cartão”, declarou ao GolfTattoo, poucos minutos depois de ter concluído o seu último torneio, na Rolex Challenge Tour Grand Final em Espanha. 

“Tive algumas exibições muito boas e outras nem por isso. Depois da vitória na China tive oportunidade de refletir sobre a época. Sabia que praticamente tinha assegurado a subida ao DP World Tour e vim para esta Grand Final mais descontraído. Queria acabar o ano com um sinal de força e subir ainda mais no ranking, mas não foi a minha semana”, acrescentou o único jogador português a ter estado no top-100 do ranking mundial de profissionais (77.º é o seu melhor). 

São, pois, com estas duas boas memórias bem frescas, das últimas três semanas, que ‘Figgy’ e ‘Melinho’ atacam a nova temporada na África do Sul. 

A 14.ª edição do Joburg Open, com um milhão de euros em prémios monetários, decorrerá esta semana no Houghton Golf Club, em Joanesburgo, contando quer para o DP World Tour, quer para o Sunshine Tour, as principais divisões do golfe profissional na Europa e na África do Sul. 

Ricardo entrou à vontade e sabia há duas semanas que iria jogar com a Categoria 15, referente a jogadores que tenham terminado o Challenge Tour de 2023 no top-21 da Corrida para Maiorca (fechou a temporada no 10.º lugar). 

Já Pedro só soube há poucos dias que tinha conseguido aceder ao torneio com a Categoria 18, referente ao top-33 da Final da Escola de Qualificação do DP World Tour de 2023, na qual terminou no grupo dos 22.º e últimos classificados. 

Aliás, há uns dias, Figueiredo tinha-nos dito que “talvez vá para a Austrália nas próximas duas semanas, porque não sei se terei entrada nos torneios da África do Sul. Neste momento estou muito fora na lista de inscritos. Depois disso, penso fazer uma pausa. Foi um ano longo, no qual joguei 25 torneios mais a Final da Escola, e sinto necessidade de descansar. Por outro lado, sinto que preciso de aproveitar as oportunidades que tiver no circuito principal. É por isso que penso ir à Austrália”. 

O plano do profissional da Vanguard seria jogar esta semana no Fortinet Australian PGA Championship, no Royal Queensland Golf Club, em Brisbane, e logo depois no ISPS HANDA Australian Open, no The Lakes Golf Club, em Sydney. São dois ‘Majors’ do PGA Tour of Australasia, que também contam para o DP World Tour. 

Felizmente para Pedro Figueiredo, acabou por entrar à última hora no primeiro dos três torneios sul-africanos do DP World Tour, que irão jogar-se até meados de dezembro. Depois de Joanesburgo será o prestigiado Investec South African Open Championship, no Blair Atholl Golf & Equestrian Estate, na mesma região, e depois o Alfred Dunhill Championship, no sumptuoso Leopard Creek Country Club (um dos campos preferidos do português de 32 anos), em Malelane. 

“A ideia é jogar aqueles em que entrar. Veremos!”, disse-nos ontem Pedro, numa altura em que jantava com Ricardo Melo Gouveia, que tem uma categoria melhor para 2024 e poderá entrar em mais torneios. Para já, estão ambos no Joburg Open e Figueiredo está apenas alguns lugares fora do Open da África do Sul. 

Portugal volta, assim, a ter dois portugueses na DP World Tour em 2024, a primeira divisão europeia, num ano olímpico. Não será fácil para ambos estarem em Paris 2024, depois ter havido dois portugueses no Rio 2016 (Filipe Lima e Ricardo Melo Gouveia), e nenhum em Tóquio 2021. 

Mesmo assim, neste momento, Ricardo Melo Gouveia aparece como (3.º ou 4.º) suplente de 27 jogadores na lista dos 60 apurados (provisoriamente) para os Jogos Olímpicos. 

Não é completamente irrealista sonhar com uma segunda participação olímpica para o português (também) de 32 anos, embora seja muito mais fácil somar pontos para o ranking olímpico em torneios do Challenge Tour (a segunda divisão europeia) do que no DP World Tour. Não é por acaso que Ricardo foi ao Rio em 2016, exatamente depois da soberba época de 2015 em que tornou-se no único português a fechar uma época como n.º 1 do ranking do Challenge Tour. 

Haver dois portugueses a competir em simultâneo no DP World Tour não é um recorde nacional. Iguala as épocas recentes de 2023, 2021 e 2020, com Pedro Figueiredo e Ricardo Santos a serem os nossos representantes na primeira divisão europeia. Na década anterior também houve anos com Ricardo Santos e Filipe Lima no escalão principal. 

Em 2023 Ricardo Melo Gouveia ainda tentou a sua sorte no DP World Tour e poderíamos ter beneficiado de três jogadores, mas logo em abril optou – e bem – pelo Challenge Tour, a segunda divisão. 

Isso faz com que o recorde de três portugueses numa mesma temporada tenha sido atingido em 2022, a exceção na elite europeia, com Pedro Figueiredo, Ricardo Santos e Ricardo Melo Gouveia. 

Há poucas semanas, Santos foi eliminado na Segunda Fase da Escola de Qualificação e é bom saber que planeia continuar a competir. Aos 41 anos ainda pode dar muito ao golfe português. Aliás, é o atual triplo campeão nacional. 

“O que tenho previsto é jogar o Challenge Tour no próximo ano, para recuperar o cartão do DP World Tour. Esse será o meu foco principal e, eventualmente, jogar um ou outro torneio em Portugal. Jogarei seguramente alguns torneios do PT Tour, porque isso faz parte da pré-temporada”. Ricardo Santos falou ao GolfTattoo há uma semana, na cerimónia de entrega de prémios do Pro-Am Viana do Castelo Cidade Europeia do Desporto, no qual ganhou uma das classificações coletivas e foi 3.º no torneio individual de profissionais. 

Tal como Ricardo Santos (167.º no ranking do DP World Tour), também Pedro Figueiredo não conseguiu terminar 2023 entre os 116 primeiros que reservaram logo o seu lugar na primeira divisão europeia em 2024. Fechou no 174.º posto e, pela terceira vez seguida (2019, 2022, 2023) teve de jogar o tudo ou nada na Final da Escola de Qualificação na Catalunha, com o resultado foi o que se sabe. 

“Estou muito aliviado. Foi uma prova dura de seis voltas, para recuperar o cartão. Fi-lo à justa e com um último dia stressante por não estar a sentir-me bem nos greens. Não vou mentir, as minhas mãos estavam a tremer quando estava a ‘patar’ para birdie no último buraco, mesmo sendo apenas um putt de meio metro e estou encantado de continuar no Tour no próximo ano”, disse, cerca de uma hora depois daquele final louco de dois birdies nos três últimos buracos que deram-lhe o passaporte ‘à queima’. 

Se para Pedro Figueiredo a Categoria 18 não lhe dá possibilidade de grandes estratégias e terá de jogar praticamente em todos os torneios em que entrar para tentar fechar 2024 no top-120 do DP World Tour, Ricardo Melo Gouveia tem mais alguma latitude com a sua Categoria 15. Na sua cabeça está claro o que precisa para evitar sobressaltos. 

“Nesta próxima época tenho de ser mais consistente. Tenho de jogar a um nível superior as más voltas. É uma época longa, é preciso ter consistência, é preciso garra, lutar, manter a disciplina ao longo de todo o ano e é assim que irão acontecer coisas boas”, analisou. O algarvio, que agora já é pai, tem a boa experiência passada de 2016, 2017 e 2018, anos em que garantiu sempre o cartão para a época seguinte. Aliás, em 2016 foi o 54.º do ranking europeu no final de uma época e tornou-se no único português a qualificar-se para o DP World Tour Championship. 

“É sempre bom regressar à África do Sul, onde o clima é agradável, as pessoas são boa gente, a comida é boa e os campos também. É sempre um bom início de época e estou entusiasmado.” 

Aos 32 anos, Pedro Figueiredo e Ricardo Melo Gouveia sentem-se motivados para atacarem juntos a nova temporada no DP World Tour… com as mesmas ilusões e sonhos que os animaram naqueles campeonatos nacionais de sub-12 de há tantos anos.

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