Juana de Aizpuru vai fechar a galeria em Madrid que ajudou a mudar a arte ibérica

Destino da importante colecção da galerista, que inclui artistas portugueses, não é conhecido. Impulsionadora da ARCOmadrid, Juana de Aizpuru fez parte do primeiro comité de selecção da ARCOlisboa.

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Juana de Aizpuru na ARCOmadrid em 2021 Cezaro De Luca/Europa Press/Getty Images
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Com 90 anos feitos em Agosto, a conhecida galerista espanhola Juana de Aizpuru vai reformar-se em breve, o que levará ao encerramento da sua galeria em Madrid. A decisão deve-se a “imperativos de saúde”, disse ao diário ABC, acrescentando que não padece de nada de grave, mas que o seu tempo já chegou ao fim.

A notícia do fecho de uma das mais importantes e históricas galerias espanholas, que representa no mercado internacional artistas portugueses como Pedro Cabrita Reis e Rui Chafes, foi confirmada pelo PÚBLICO junto da galeria em Madrid, mas pouco mais foi possível apurar. Não há ainda uma data concreta, mas a galeria já não deverá estar presente na próxima edição da ARCOmadrid, a feira de arte contemporânea que vai decorrer em Março.

Juana de Aizpuru revolucionou o mercado da arte espanhol — e por arrasto o ibérico — ao pôr em marcha a criação de uma feira de arte contemporânea em Madrid nos anos 80. Recentemente, quando a ARCOmadrid comemorou os seus 40 anos, foram vários os que recordaram o voluntarismo e a energia desta mulher de cabelo vermelho, que, numa já mítica viagem às feiras congéneres internacionais, convenceu os colegas de profissão de que era possível fazer um evento desse tipo em Espanha.

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Espaço da Galeria Juana de Aizpuru na ArcoLisboa em 2017, com escultura de João Maria Gusmão e Pedro Paiva em primeiro plano Enric Vives-Rubio

A ARCOmadrid nasceu em 1982, em plena transição democrática espanhola, e numa altura em que a "movida" madrilena estava ao rubro. “Juana de Arco”, como por vezes lhe chamam os media espanhóis, foi a primeira directora da feira e dirigiu-a até 1986.

A galerista tem sido também uma presença constante na ARCOlisboa, a feira de arte contemporânea que desde 2016 se vem repetindo anualmente na cidade portuguesa, tendo feito parte do primeiro comité de selecção de galerias.

O encerramento não foi uma surpresa para Pedro Cabrita Reis, um dos dois artistas portugueses representados pela galeria espanhola, juntamente com Rui Chafes. “Apesar de já sabermos há algum tempo, não deixa de ser uma triste notícia. Ela, como todos sabemos, lançou as bases da ARCO, construindo um território de entusiasmo, um pólo magnético na cidade, que se materializou na feira. O seu trabalho de divulgação da arte contemporânea e dos artistas contemporâneos foi fundamental.”

Fundada em Sevilha em 1970, a galeria abriu o seu espaço em Madrid em 1983 na Calle Barquillo. O destino da importante colecção de Juana de Aizpuru, que inclui várias obras de artistas portugueses, nomeadamente da dupla João Maria Gusmão e Pedro Paiva, que representou até à sua separação, está ainda por decidir, mas a doação a um museu não parece estar em cima da mesa.

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