O exército

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1. Há décadas (e o tempo vai correndo nestas linhas) que neste local e em tantos outros tenho sustentado a natureza maligna das claques ou na linguagem simpática e benévola da lei, dos grupos organizados de adeptos. Mas, como sempre, um muro de silêncio e opaca omissão levanta-se a essas palavras. As leis sobre a prevenção e combate à violência sucedem-se sem parar, sempre surgindo alterações às anteriores, principalmente aquando da ocorrência de algum incidente de violência. Nenhuma delas, no entanto, reflecte com precisão a realidade que nos é oferecida pelas claques, particularmente, pelos seus núcleos duros, liderados por “jovens” de avançada idade.

2. E a realidade vem demonstrando que ao longo do processo de sedimentação das claques elas têm, por via de regra, uma linha de apoio e reconhecimento dos dirigentes dos próprios clubes. Começaram por recolher, nos seus inícios, alguns apoios menos significativos (bilhetes mais baratos, apoio nas viagens para apoiar a equipa e benesses semelhantes). Dentro dos clubes, e no interesse dos dirigentes dos mesmos, foram crescendo e ganhando acrescida força, iniciando até um processo de ligação, em muitos casos, a actividades criminosas.

Para esses dirigentes ficou, à sua disposição, uma “força armada” bem organizada e pronta a entrar em acção quando por eles determinado.

3. Todavia, o feitiço como que se virou contra o feiticeiro. E chegou o tempo das aproximações aos treinos – e da interrupção dos mesmos – na procura ilegítima de justificações pelo desempenho menos frutuoso da equipa. Chegou o tempo das “esperas” a treinadores e jogadores e das ameaças a próprios dirigentes dos clubes. Chegou o tempo da coação e uso da força nas assembleias gerais dos clubes, intimidando restantes sócios, particularmente aqueles que se pronunciem em sentido contrário aos interesses, já não do clube, mas, directa ou indirectamente, das próprias claques instaladas no poder. As claques, nesse aspecto, como que passaram a deter um poder próprio sobre os destinos dos clubes.

4. O que sucedeu na Assembleia Geral do FC Porto só é novidade pelo pico da violência ocorrida. Na verdade, muitos serão os associados do Sporting ou do Benfica que já experienciaram intimidações, entradas ruidosas e agressivas nas respectivas assembleias gerais e acções colectivas programadas para silenciar as vozes discordantes.

Em bom rigor, à parte o grau de violência demonstrado na Assembleia Geral do FC Porto, nada de novo e mais do mesmo.

5. As claques, nomeadamente aquelas com um longo historial de violência e mesmo acção criminosa de outra natureza, são para dissolver, desligar dos clubes, cortando-se a seiva negra que os une.

Não se vai lá, nunca, por outro meio.

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