Portugal ganhou, mas marcou pouco para tantos avançados

Selecção nacional triunfa sobre o Liechtenstein e mantém registo perfeito na qualificação para o Euro 2024. Ronaldo e Cancelo marcaram numa noite de muitas invenções.

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Ronaldo marcou o seu 128.º golo pela selecção nacional EPA/GIAN EHRENZELLER
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Nem um treinador de bancada faria melhor. Frente a um adversário que quase dispensa a utilização de um guarda-redes, Roberto Martínez não chegou a esse ponto (a baliza estava prometida a José Sá e o espanhol cumpriu a promessa), mas lançou no “onze” todos os avançados que tinha. Isso não se traduziu numa goleada, nem numa exibição inspirada da selecção portuguesa, que bateu nesta quinta-feira, em Vaduz, o Liechtenstein por apenas 0-2 na penúltima jornada do Grupo J da fase de qualificação para o Euro 2024.

Como se fosse uma táctica de jogo de computador, em campo estavam ao mesmo tempo Cristiano Ronaldo, Gonçalo Ramos, Diogo Jota e João Félix, mais Bruno Fernandes e Bernardo Silva, que também são jogadores de ataque. Até João Cancelo o era. Só os centrais Toti (outra estreia) e António Silva, mais Rúben Neves e Sá é que tinham por missão principal guardar a baliza.

Mais avançados não quer dizer, necessariamente, mais golos ou mais oportunidades – isso será só para situações de urgência. Ter muita gente a jogar fora de posição é, muitas vezes, receita para exactamente o contrário. E Portugal, equipa muito (mas mesmo muito) superior ao Liechtenstein, poucas vezes chegou com perigo à baliza contrária.

Durante os primeiros 45 minutos, o melhor ataque da fase de qualificação não conseguiu marcar golos à pior defesa. O 200.º classificado do ranking FIFA chegou para a 6.º melhor equipa do mundo em versão ataque total.

Aqui fica um resumo da produção ofensiva da selecção portuguesa na primeira parte. Remate de Rúben Neves aos 13’ defendido por Benjamim Buchel. Livre directo e respectiva recarga de Ronaldo a ficarem na barreira aos 25’. Cabeceamento de Ramos a cruzamento de Bernardo Silva aos 30’ que saiu ao lado, naquela que foi a melhor jogada colectiva da equipa. Ronaldo a tentar um pontapé de bicicleta aos 47’ que saiu bem ao lado. E aos 48’, jogada individual de Cancelo que deixou em Félix, com o remate do homem do Barcelona a ficar nas pernas de Buchel.

Foi isto que aconteceu na primeira parte. Algum mérito dos homens do principado, que se defenderam como podiam e foram preenchendo os espaços em frente à sua baliza, enorme demérito da selecção portuguesa, sobretudo por causa das experiências de Martínez, que queria para este jogo maior clareza no ataque – seguramente que não irá voltar a jogar assim, nem que defronte a equipa que perde com San Marino, a pior do ranking FIFA.

Empatar com uma das melhores selecções do mundo durante meio jogo como que despertou no Liechtenstein uma vontade de fazer alguma coisa. Assim que se iniciou a segunda parte, viu-se uma tentativa de pressão sobre a saída de bola portuguesa, um adiantamento em bloco. E nem um minuto tinha passado sobre esta declaração de intenções, quando Diogo Jota tomou conta da bola, correu com ela, lançou Ronaldo em velocidade e o capitão português, de pé esquerdo, fez o 0-1 – o seu 128.º golo pela selecção, o décimo nesta qualificação, tantos quanto Lukaku.

Este era o mínimo necessário para cumprir o primeiro objectivo, mas não chegava para o recorde de golos em fases finais, nem para aquecer a noite dos imigrantes portugueses que enchiam o estádio. Aos 57’, essa noite ficou um pouco melhor quando Buchel tentou ir buscar uma bola longa perto da linha final. O guardião da casa perdeu a jogada para Cancelo e o lateral do Barcelona, de pé esquerdo, fez o 0-2, o golo que deixava este jogo à prova de risco para Portugal – sendo que há 19 anos, Portugal deixou-se empatar 2-2 com o Liechtenstein depois de chegar a uma vantagem igual a esta.

Isso não iria a acontecer. Se bem que a equipa da casa teve uma enorme oportunidade para reduzir aos 60’. Dennis Salankovic, futebolista no desemprego, ganhou em corrida a Rúben Neves, mas, frente a Sá, deu oportunidade ao estreante de brilhar. Ainda deu para Bruma voltar a jogar pela selecção, um par de bolas ao poste, para Félix ter um golo anulado por “culpa” de um fora-de-jogo de Jota, para Ramos ter o seu golo anulado por posição irregular de António Silva e para João Mário, lateral do FC Porto, ser o terceiro estreante de uma noite em que Martínez podia fazer experiências sem correr riscos de explodir com a casa.

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