A Rosário não está

Uma semana depois, ali estava ele, com um ramo de flores comprado na florista.

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No domingo anterior, o Moisés disse a sua costumeira frase inaugural à Rosário, "tapa-me com os teus olhos fechados", a frase que usava para iniciar os relatos de viagens inventadas, e quando a Rosário cerrou as pálpebras, o Moisés poisou os seus olhos nos olhos da São, cujo olhar de vez em quando chocava com o rosto dele, sorrindo timidamente, embaraçada por não saber exactamente o que significava aquele encontro. Nesse domingo, o Moisés fora mais insistente do que costumava, mantendo o olhar aceso durante toda a narração da história, que contava quase num murmúrio: o café era de Sumatra e os frutos secos do Iémen. O salão era guardado por mercenários finlandeses, todos com mais de dois metros, retirados da família durante a infância e treinados por guerrilheiros uzbeques no Hindu Kush. Uma pessoa podia magoar-se só de olhar para os seus ombros ou para a musculatura das pernas que saíam da túnica de linho que lhes servia de farda. O cabelo era apanhado no topo da cabeça. Os candeeiros do tecto eram de pedras preciosas e as velas eram mantidas por criados cuja função era apenas essa e que pagavam qualquer descuido com o próprio pescoço. Tinham todos precisamente um metro e sessenta e três e o cabelo tingido de preto. Usavam barba e um colete tradicional macedónio. Falei uma vez com um deles que, por causa disso, se distraiu, deixou que uma vela se apagasse, e de repente foi garrotado à minha frente por um dos seus colegas de profissão.

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