Será este um ponto de viragem? Desafio lançado ao próximo governo

Acho curioso que os projetos em questão constituam as joias da coroa no que diz respeito à campanha do Governo para a transição energética nacional.

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O que parecia ser uma terça-feira normal, revelou-se uma manhã em que fomos todos apanhados de surpresa com a avalanche de informação que culminou na demissão do primeiro-ministro. De acordo com o inquérito dirigido pelo Ministério Público, “em causa poderão estar, designadamente, factos suscetíveis de constituir crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência”.

Do que sabemos, encontram-se em causa as concessões de exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso (Boticas), o projeto da central de produção de energia a partir de hidrogénio na refinaria de Sines e o projeto de construção de um “data center” desenvolvido na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade Start Campus.

Estamos perante um cenário político gravíssimo e logicamente que o foco nacional será o de eleições e constituição de um novo Governo. Contudo, não esqueçamos o que está em cima da mesa. É necessário apurar efetivamente os factos relativamente às controvérsias da exploração de lítio e da produção de hidrogénio e garantir que quaisquer irregularidades sejam punidas e revertidas.

Considero bastante positivo o facto de se estar a agir judicialmente antes da execução dos projetos em questão. Contudo, num país em que se permite a desflorestação criminosa em plena zona de REN e Rede Natura 2000, apesar da queixa-crime no Ministério Público devido ao corte ilegal de árvores na Serra da Lousã, parece-me prudente salvaguardar o interesse nacional ao não permitir que se perca o foco nas controvérsias da exploração de lítio e de produção de hidrogénio.

Acho curioso que os principais projetos em questão constituam as atuais joias da coroa no que diz respeito à campanha do Governo para a transição energética nacional. Será coincidência ou será que temos de ter mais espírito crítico e começar a ser mais exigentes com os nossos dirigentes políticos relativamente ao rumo do nosso país?

Como será possível avançar com os projetos de exploração de lítio a céu aberto quando todos os municípios da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Tâmega e Barroso se opõem, quando existem suspeitas de corrupção tanto nas Avaliações de Impacte Ambiental emitidas pela APA como na escolha das empresas para concessão? Iremos continuar a perpetuar a corrupção a todo o custo ou será este o ponto de viragem? Desafio lançado ao próximo governo.

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