Somália: agricultores lutam contra o receio de inundações provocadas pelo El Niño

O Corno de África é uma das regiões mais vulneráveis ao fenómeno climático El Niño.

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Na Somália, onde a época de plantação acaba de começar, os agricultores ainda mal recuperaram de uma das secas mais duras dos últimos anos e, mais uma vez, vêem-se confrontados com outro acontecimento climático sobre o qual não têm qualquer controlo: o El Niño.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), juntamente com a Sociedade do Crescente Vermelho da Somália (SRCS), está a trabalhar com as comunidades para as ajudar a prepararem-se para eventuais inundações. Foram distribuídos cerca de 75.000 sacos de areia por todo o país como medida de emergência.

O fenómeno climático El Niño vai durar pelo menos até à primeira metade de 2024, de acordo com as últimas previsões das Nações Unidas, com chuvas anormais que suscitam receios no sector agrícola em várias regiões do globo. É o aquecimento das águas superficiais do oceano Pacífico Leste e Central que desencadeia o fenómeno El Niño, cuja influência está a ser sentida por todo o globo, na forma de vários tipos de calamidades, desde incêndios florestais a ciclones tropicais e secas prolongadas. Os riscos são mais elevados para as economias emergentes, que estão mais expostas a aumentos dos preços nos alimentos e na energia.

"A interacção entre os fenómenos meteorológicos, os conflitos e as alterações climáticas não é uma fantasia. É uma realidade a que assistimos todos os dias. As alterações climáticas aumentam de facto os conflitos e o sofrimento das pessoas", admite Pascal Cuttat, responsável pelo CICV na Somália.

De acordo com dados humanitários destas associações, estima-se que 1,6 milhões de pessoas na Somália serão provavelmente afectadas pelas cheias, enquanto 1,5 milhões de hectares de terra em torno dos dois principais rios – Juba e Shabelle – correm um risco elevado de serem inundados pelas águas das cheias.

"As inundações são um cenário muito perigoso. Por vezes, matam pessoas. O nosso modo de vida é varrido e temos de começar do zero", diz Abdullahi Hassan, um agricultor de Beledweyne, uma cidade propensa a inundações na região central de Hirshabelle, na Somália, ouvido pelo Comité Internacional da Cruz Vermelha. "Voltamos ao solo nu". 

Abdullahi é um dos 200 agricultores de Beledweyne que receberam sacos de areia para proteger as suas quintas da água do rio. "Toda a minha família depende desta quinta. Não posso sair porque as pessoas dizem que vem aí alguma coisa. Temos de ver com os nossos olhos se o El Niño vai chegar. Para já, deixámos de plantar. Quando as cheias chegarem, salvaremos o que pudermos", afirma.