Nas ausências, presença

Sabia criar o drama necessário para ter, nas suas ausências, presença.

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O Urso bebia com as duas mãos, mesmo quando segurava os minúsculos copos de medronho e os levava à boca mecanicamente e fazia o vidro bater nos dentes antes de beber de um trago e quando se enervava trincava o copo até sair sangue e areia. Voltando-se para o Moisés, à nossa. À nossa, respondeu o amigo, fazendo os copos chocar com alguma força, entornando um pouco de medronho, mas era ênfase necessária, esse barulho de vidro a bater era o barulho da amizade a ser sublinhada. O Urso levantou-se de seguida para ir buscar a garrafa à cozinha, cambaleando um pouco, regressando aos esses e pousando o corpo e a garrafa com estrondo, o corpo no banco, a garrafa na mesa. O Severo gritou do quarto: E para mim, não? Cale-se, berrou o Urso.

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