Newcastle vive de Callum, um sobrevivente da pré-fortuna

O goleador é um dos resistentes da época em que o Newcastle ainda não estava no “clube dos ricos”. Por esse motivo e pelo percurso de vida duro, da pobreza à fortuna, é um dos preferidos dos adeptos.

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Callum Wilson, avançado do Newcastle Reuters/JASON CAIRNDUFF
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O Newcastle é um dos “novos ricos” do futebol mundial, com o alto “patrocínio” do fundo soberano da Arábia Saudita (PIF), onde o dinheiro serve, se assim entenderem, para apetrechar contas bancárias de jogadores renomados e, por consequência, os clubes de futebol com craques de primeira água.

Mas o “rei” do espectáculo, no clube inglês, é alguém cujo percurso de vida é bem distinto da riqueza e ostentação saudita – e muito menos de um nível de vida que o dinheiro comprava. É de um percurso de vida duro e de uma caminhada futebolística lenta que se fez a carreira de Callum Wilson, que leva sete golos em 11 jogos na temporada e é um dos resistentes da época em que o Newcastle ainda não estava no "clube dos ricos".

Neste sábado, marcou dois golos no empate (2-2) frente ao Wolverhampton e a equipa segue firme na luta pela Europa. Em 2021, quando foi comprado pelo PIF, não era assim tão previsível que, dois anos depois, fosse nos golos de alguém como Wilson que o futebol do Newcastle iria prosperar.

Pobreza e lesões

Wilson nunca foi um goleador de primeiro nível. Subiu os vários escalões do futebol inglês e, aos 31 anos, só uma vez ultrapassou os 15 golos numa primeira divisão, num percurso de pequenos passos.

No Bournemouth, que ajudou a subir à Liga inglesa, começou por marcar cinco golos. Depois seis. A seguir nove, antes dos 15. E só uma lesão no ano seguinte lhe esfriou a subida constante no registo goleador.

Mas os problemas físicos – e não foram poucos – são apenas uma pequena parte das barreiras postas à frente deste inglês de Coventry.

O pai abandonou a família quando Callum ainda era uma criança. Apesar de novo, Callum era o mais velho de seis irmãos. Assumiu, por isso, a responsabilidade de ajudar a mãe.

“Eu era o que ficava a tomar conta dos meus irmãos quando a minha mãe saía. Sempre foi assim. Era o mais velho, tinha de olhar por eles. Foi uma responsabilidade ainda em tenra idade e era um cenário estranho, mas permitiu-me crescer rapidamente e trazer-me onde estou hoje”, explicou, citado pelo The Independent.

Na altura, Wilson e a família recorriam ao banco alimentar – motivo pelo qual o jogador ainda hoje faz questão de participar pessoalmente em recolhas e ajudas à instituição.

Mas nessa altura nem o talento para o futebol parecia suficiente para salvar a família Wilson. Callum, ainda a jogar nos escalões inferiores, sofreu duas lesões graves nos joelhos ainda muito novo – problemas que ainda o atraiçoam aqui e acolá.

Força e velocidade

Hoje, Wilson é jogador de selecção. Esteve no Mundial 2022 e, apesar de estar na sombra de Harry Kane – e assim deverá continuar –, tem, geralmente, o seu lugar reservado no grupo de Gareth Southgate.

Com uma grande variedade de recursos, Wilson não é o tradicional “pinheiro” de área britânico e consegue oferecer alguma mobilidade e, sobretudo, velocidade – chegou até a jogar como ala nos primeiros anos da carreira. A força física nos duelos e a sagacidade na área também o têm ajudado a prosperar num futebol físico como é o britânico, com passagens por escalões até mais intensos e duros do que a Premier League.

O que Callum Wilson nunca terá é uma gama de recursos técnicos muito apurada, motivo pelo qual dificilmente chegará a ser um jogador de “clube grande” – e os 31 anos também não ajudam.

Mas para quem recorria ao banco alimentar, ajudava a criar cinco irmãos e sofreu lesões tão graves quando ainda era jovem, ser goleador do Newcastle e internacional inglês já parece ser uma vitória e tanto.

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