Vacinaram-se mais pessoas para a gripe, mas a covid-19 “está a circular intensamente”

Relatório da DGS mostra que, em pouco mais de duas semanas, foram vacinadas 556.503 pessoas para a gripe e 457.911 pessoas para a covid-19 em Portugal. Carmo Gomes aconselha vacinação contra a covid.

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A vacinação contra a covid-19 arrancou a 29 de Setembro em simultâneo com a da gripe Paulo Pimenta (arquivo)
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O número de pessoas vacinadas contra a gripe em Portugal desde 29 de Setembro deste ano até ao domingo passado é superior ao dos indivíduos que receberam a vacina contra a covid-19 durante o mesmo período. E a diferença ultrapassa as 98 mil pessoas.

Os dados divulgados no último relatório semanal, publicado na terça-feira, da Direcção-Geral da Saúde (DGS) em relação à vacinação sazonal no país mostram que, durante aquele período, foram vacinadas 556.503 pessoas contra a gripe (427.194 em farmácias e 129.306 no Sistema Nacional de Saúde) — e 457.911 pessoas contra a covid-19 (341.518 em farmácias e 116.393 no SNS). Significa isto que foram vacinadas mais 98.592 pessoas contra a gripe do que contra a covid-19.

O epidemiologista Manuel Carmo Gomes começa por destacar ao PÚBLICO que, “apesar de tudo, a vacinação contra a covid-19 está a avançar a um ritmo que está a superar todas as expectativas”. No ano passado, a vacinação contra a covid-19 “começou um bocadinho mais tarde”. [Porém, se compararmos o mesmo período de dias, por esta altura em 2022,] tínhamos vacinado cerca de um terço ou menos do número de pessoas que já vacinámos este ano.” Algo que o especialista acredita estar relacionado com “a presença da vacina nas farmácias, que permite estar mais próximo das pessoas e uma diversificação maior”.

Questionado sobre qual poderá ser a razão para a discrepância observada no número de pessoas vacinadas contra a gripe e contra a covid-19, Manuel Carmo Gomes salienta que, na sua opinião — que é “um bocadinho especulativa” —, a toma da vacina contra a gripe já se tornou uma “rotina” pelo menos para “uma grande parte da população idosa”, que compreende “que o vírus muda todos os anos e que a vacina se adapta ao vírus”. Além disso, “as pessoas têm a experiência de não ter reacções adversas com essa vacina impeditivas ou que as desencorajem”.

Vacina adaptada às novas variantes

Já a covid-19 é causada por um vírus novo” e poderá ainda não existir o “hábito” na população de tomar a vacina sazonalmente. A isto junta-se a “falsa ideia de que a vacina contra a covid-19 é mais do mesmo”. Porém, o epidemiologista alerta que “não é” e que “esta vacina está adaptada às subvariantes do vírus que estão agora a circular”, entre as quais a XBB.1.9 (incluindo a subvariante EG.5 que deriva da anterior) e a XBB.1.16, a par de outras subvariantes descendentes directas destas.

A vacina contra a covid-19 que está a ser administrada em Portugal é baseada na subvariante XBB.1.5 — também conhecida como “variante Kraken” — e é eficaz, visto que a XBB.1.5 é “muito parecida” com as que circulam actualmente no país.

Manuel Carmo Gomes salienta ainda que o SARS-CoV-2 “mudou bastante”. Neste momento, “o vírus que está a circular foge aos anticorpos que as pessoas ainda possam ter”, enfatiza. E acrescenta: “A nova vacina está adaptada às novas variantes e as pessoas, por vezes, não sabem disso.”

Pode ainda haver quem não se sinta confortável em tomar as duas vacinas (contra a gripe e a covid-19) em simultâneo. Nestes casos, o especialista garante que “não há nenhuma razão de segurança para não tomar as duas no mesmo dia” — até porque “nenhuma delas é uma vacina viva”, mas feitas a partir de partículas do microorganismo.

Há ensaios clínicos realizados em pessoas que se vacinaram em simultâneo contra a gripe e a covid-19 e com outras pessoas que o fizeram com um intervalo de tempo. “Os resultados são os mesmos em termos de resposta imunológica. Portanto, a resposta do sistema imunológico não difere muito entre tomar em simultâneo ou tomar, por exemplo, com duas semanas de espaçamento”, afirma Carmo Gomes.

Luís Graça, coordenador da Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19, salienta, por sua vez, que as duas vacinas têm indicações terapêuticas diferentes e que a vacina contra a covid-19 não é recomendada a pessoas que tiveram uma infecção recente por SARS-CoV-2, o que também poderá explicar a discrepância nos números de indivíduos vacinados contra a gripe e contra a covid-19.

Manuel Carmo Gomes alerta que “a covid-19 está aí” e que o vírus SARS-CoV-2 “está a circular intensamente, até mais do que a gripe”. “Todos os dias morrem pessoas de covid-19”, diz, contrapondo que “a gripe não está a matar neste momento”.

A percepção do risco tem aqui um papel: “As pessoas sabem que a gripe começa lá para Novembro ou Dezembro e está associada à pneumonia e à morte. Mas a covid-19 também está.” Por isso, Carmo Gomes recomenda que as pessoas “não adiem a vacinação” contra a covid-19.

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