Pensar com e sobre ética no Dia Global da Ética

A deliberação ética exige espessura e esta só é possível através das vozes, espaços e tempos subjacentes às narrativas individuais de todos os envolvidos nas questões éticas analisadas.

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O Global Ethics Day, que tem como mote Ethics Empowered: using the power of ethics to build a better world, é assinalado nesta quarta-feira, 18 de outubro. Esta celebração anual tem como objetivo convocar indivíduos, escolas, empresas, governos, organizações sem fins lucrativos, entre outros, com a certeza de que, juntos, podemos aumentar a sensibilização para a ética e trabalhar para abordar as questões mais críticas que a sociedade enfrenta.

No final da Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), “o número de pessoas com 60 ou mais anos será 34% superior, passando de mil milhões em 2019 para 1,4 mil milhões; e em 2050, a população mundial de idosos terá mais do que duplicado, passando para 2,1 mil milhões”, o que já está a provocar (e assim continuará) profundas alterações no mercado do trabalho e em particular na forma de gestão da força de trabalho das organizações.

Por um lado, há cada vez mais equipas compostas por pessoas de três ou mais gerações, com abordagens e expectativas muito diferentes em relação ao trabalho; por outro lado, diversos estudos apontam para a possibilidade da existência de preconceito baseado na idade (idadismo), que se pode manifestar de diferentes formas, quer individualmente quer ao nível de práticas e/ou políticas corporativas e institucionais, que perpetuam ainda mais algumas crenças estereotipadas, com implicações na gestão da ética e da compliance.

O Relatório Mundial sobre o Idadismo da OMS refere que, a nível mundial, uma em cada duas pessoas tem atitudes discriminatórias em relação aos mais velhos, enquanto, na Europa, uma em cada três diz ter sido vítima de discriminação com base na idade. O idadismo interpessoal contra adultos mais jovens parece ser ainda mais prevalente do que o idadismo contra as pessoas idosas.

Sabemos também do recente relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Retaining Talent at All Ages, Ageing and Employment Policies (2023), que “no contexto do rápido envelhecimento da população e do prolongamento da vida profissional, podemos e devemos fazer melhor para garantir que os talentos e as competências de uma força de trabalho multigeracional sejam aproveitados da melhor forma”. Cientes deste contexto, o nosso novo estudo pretende apoiar as organizações na identificação de oportunidades e na criação de linhas de orientação que permitam que o contexto laboral seja espaço de hospitalidade e de inclusão para as diferentes gerações que o habitam.

Num estudo recente, realizado pelo Fórum de Ética da Católica Porto Business School, foi trabalhado o tema da diversidade geracional no trabalho. Da análise, quer global quer por gerações, das respostas obtidas destaca-se que, no que se refere ao conceito idadismo subjacente à elaboração do estudo, cerca de metade (48%) dos inquiridos afirma desconhecer o termo, mas, após a revelação do significado providenciado no inquérito, a maior parte é fonte de testemunhos importantes sobre experiências vividas de comportamentos desadequados ou inaceitáveis motivados pela discriminação em função da idade.

O desconhecimento do termo pode ser um obstáculo à sinalização de discriminação por idade, dado que, a ausência de um termo para nomear a questão ética impede que a situação seja reconhecida como um problema ético. O facto de haver desconhecimento do termo pode ser um dos fatores que justificam um dado importante deste inquérito: quase metade dos respondentes acredita que o idadismo pode ser combatido por meio de políticas públicas e legislação. Mas, para 92%, a forma mais eficaz de o combater é através da educação/formação. Este enfoque na educação/formação consubstancia a necessidade de promoção de espaços seguros de reflexão, que tem sido um dos desígnios do Fórum de Ética.

Por outro lado, as perceções e tomadas de posição sobre as várias dimensões da diversidade geracional do mundo do trabalho requerem necessariamente uma clarificação através dos contributos qualitativos providenciados quer pelas perguntas abertas, quer pelas narrativas partilhadas através do livro que irá ser publicado como parte essencial deste estudo. A deliberação ética exige espessura e esta só é possível através das vozes, espaços e tempos subjacentes às narrativas individuais de todos os envolvidos nas questões éticas analisadas.


As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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