Cartas ao director

Ouça este artigo
00:00
04:34

A guerra

Há muito que desisti de entender o conflito israelo-palestiniano. E muitos dos leitores desta carta perguntar-se-ão de imediato: de que lado é que este está? Pois ficarão desiludidos porque o que pretendo é discorrer sobre o flagelo da guerra. Entrei um dia num museu em Espanha e fui surpreendido pelas gravuras de Goya, a cujo conjunto ele chamou Os Desastres da Guerra. Que evidenciam um comportamento humano que, pelos vistos, não mudou. A crueldade não tem medida nem fim e a lógica é a de "quanto pior melhor".

De ambos os lados deste conflito há uma maioria de pessoas como nós, que apenas querem levar tranquilamente a sua vida, trabalhar, ver crescer os filhos e estimar os amigos. Cujo bom senso (o bom senso resolveu 99% dos meus problemas) faria chegar rapidamente a um entendimento. O que não acontece porque aquela guerra não começou no sábado e tem uma história que faz acontecer o presente e condiciona o futuro. Os civis israelitas foram vítimas de uma indizível crueldade e agora estamos a ver em directo na TV o que está a acontecer aos civis palestinianos. E no futuro próximo? Goya já respondeu a esta interrogação há mais de duzentos anos.

José Pombal, Vila Nova de Gaia

Programa de retenção de talentos

O Governo quer seduzir os jovens licenciados a ficar em Portugal e para isso elaborou medidas como IRS jovem, devolução das propinas, vouchers para férias em pousadas e 4 ou 5 viagens de comboio. A maioria das medidas não são más para quem quer trabalhar em Portugal, mas umas férias pagas e uma ajuda monetária pontual, como devolução das propinas, não vão persuadir o jovem a deixar de pensar no seu futuro.

Agora o IRS jovem não é bom para ninguém, na medida de que não é nada pedagógico e chega a ser irresponsável. Vejamos, no primeiro ano o jovem não paga IRS isto não representa nenhum aumento de ordenado, pois ele nunca recebeu e portanto será o seu ponto de partida e começará a orientar a sua vida de acordo com aquele ordenado.

Acontece que no segundo ano já paga 25% de IRS, que num ordenado de 1150 euros corresponderá a uma perda de rendimentos de cerca de 200 euros, e no final dos cinco anos, quando começar a pagar 100% de IRS, terá perdido cerca de 800 euros! Esta é a medida que é suposto seduzir os jovens, que ao invés de progredir na carreira, regridem.

Mas se esta medida não convencer ninguém, sempre temos uma semana de férias numa pousada, "para conhecer a diversidade e beleza do país".

João Ribeiro, Carregado

Cidades sem carros

Na estação principal de Copenhaga, que desempenha um papel semelhante à estação de Entrecampos em Lisboa, param comboios suburbanos todos os minutos ímpares nos dois sentidos, das cinco da manhã à meia-noite e meia. Esses comboios servem mais de 1,7 milhões de habitantes por meio de 86 estações localizadas em 24 municípios e têm diariamente mais de 357 mil ocupantes. A maravilhosa imagem de Copenhaga como cidade sem carros, com encantadoras ruas pedonais, bicicletas, esplanadas, flores e pessoas sorridentes, repousa num poderoso dispositivo ferroviário, bem imaginado e conceptualmente muito moderno, que oferece segurança, capacidade e elevadíssima prontidão: o carro é, muitas vezes, uma solução de recurso imposta pela falta de oportunidade do transporte público. Entendamo-nos: sem um sistema ferroviário de muita qualidade e alta frequência de operação, não há cidades sem carros. Construir novas vias rápidas ou alargar as existentes não resolvem o problema, antes o agravam.

Eduardo Zúquete, Lisboa

Activismos contraproducentes fósseis

Dez jovens interromperam o trânsito em protesto contra a inacção face ao problema climático; numa faixa lia-se “O Governo e empresas declararam guerra à sociedade e ao planeta”. Têm razão em preocupar-se e em manifestá-lo mas não há nada pior para uma boa causa que um mau exemplo.

Portugal é um dos líderes em energia limpa da Europa mas estes jovens coagem o Governo a acabar com os combustíveis fósseis, o que concita a animosidade dos utentes, seus indispensáveis aliados. Como não procuraram convencer, foram retirados à força pelos condutores, que lhes seguiram o exemplo; perderam uma boa oportunidade.

Mais, exigem que o Governo tome medidas que levem os portugueses a poluir menos; ora um governo democrático depende da opinião dos eleitores, consumidores quase todos, directa ou indirectamente poluidores. Medidas que implicam alterar comportamentos, o que não será fácil quando é mínima a participação portuguesa nesse problema global. Arriscam-se a cair na risível postura daquele noctívago que, regressando a casa depois de uma noitada, perdeu a chave numa zona escura e foi procurá-la à luz do primeiro candeeiro que encontrou…

H. Carmona da Mota, Coimbra

Sugerir correcção
Comentar