Chefe da Força Aérea alerta Defesa para a “mais grave” falta de efectivos dos últimos 50 anos

“Caso não sejam tomadas medidas (...) comprometer-se-á, irremediavelmente, a capacidade operacional da Força Aérea”, lê-se no memorando enviado à ministra Helena Carreiras.

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O chefe do Estado-Maior da Força Aérea apresentou à ministra da Defesa um documento com 11 páginas sobre o tema Rui Gaudencio

O chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general Cartaxo Alves, alertou a ministra da Defesa que a actual situação de efectivos no ramo é "a mais grave dos últimos 50 anos", avisando que a capacidade operacional pode estar comprometida.

"A actual situação dos efectivos da Força Aérea é, sem margem para dúvidas, a mais grave dos últimos cinquenta anos", lê-se num memorando, ao qual a Lusa teve acesso, dirigido à ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras, datado de 3 de Outubro e no qual o chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA) faz um ponto de situação relativo ao "défice de efectivos militares".

João Cartaxo Alves avisa que "caso não sejam tomadas medidas efectivas, que contribuam de forma inequívoca para a inversão do processo de erosão dos efectivos militares, comprometer-se-á, irremediavelmente, a capacidade operacional da Força Aérea e qualquer ambição de edificação das novas capacidades atribuídas".

"A manter-se a tendência de saídas verificada nos últimos dez anos, agravar-se-á ainda mais o desvio entre as existências e as necessidades reais, na ordem dos 2500 militares, em 2025, representando um défice de 36%", lê-se no texto.

No documento com 11 páginas, dirigido a Helena Carreiras, Cartaxo Alves frisa que o défice actual de efectivos "representa uma ameaça para a Força Aérea, no sentido em que compromete a sua capacidade ao nível da geração, execução, sustentação e em particular da edificação de novas capacidades, salientando-se a imperiosa necessidade de reversão desta situação".

O chefe militar salienta que "a acumulação excessiva" de funções e tarefas, "resultantes da falta de pessoal, origina sobrecarga e desgaste acrescidos, aumentam a probabilidade de erro humano e reduzem o tempo efectivamente disponível para aprofundar convenientemente cada uma das tarefas atribuídas".

"Tal poderá, cumulativamente, conduzir à redução da qualidade do trabalho desenvolvido e consequentemente desmotivação dos militares. Por outro lado, a falta de pessoal traduz-se numa redução da capacidade para treino e manutenção de qualificações, aumentando, uma vez mais, os riscos para a operação, e para a segurança em terra e em voo", alerta.

Cartaxo Alves acrescenta que "esta continuada falta de efectivos se reflecte directamente numa redução dos padrões de prontidão operacional e indisponibilidade dos meios, colocando em risco o cabal cumprimento da missão".

"Importa ainda salientar que o aumento de efectivos será sempre um processo continuado e prolongado no tempo, dado o actual défice de pessoal, sendo necessário tomar medidas concretas que possam reverter, categoricamente, esta erosão dos quantitativos de pessoal militar", lê-se no texto.

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