Salman Rushdie publica em Abril de 2024 livro sobre ataque que sofreu em Nova Iorque

Knife: Meditations After an Attempted Murder é editado a 16 de Abril de 2024 pela Penguin Random House.

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Salman Rushdie em Maio deste ano Bryan Bedder/Getty Images

O escritor Salman Rushdie dedica o seu próximo livro, Knife (quer dizer “Faca” em inglês) ao ataque que sofreu em Agosto do ano passado. A obra será publicada a 16 de Abril de 2024, anunciou a editora internacional Penguin Random House.

Rushdie foi atacado por um homem armado com uma faca, quando iniciava uma palestra num encontro em Chautauqua, no estado de Nova Iorque, a 12 de Agosto de 2022.

Atingido no pescoço e no abdómen, o ataque obrigou-o a um internamento de seis semanas, deixou-o sem visão num olho e, ainda, sem sensibilidade em alguns dedos. O livro de memórias Knife: Meditations After an Attempted Murder (“Faca: Meditações após Uma Tentativa de Assassinato”, em tradução livre) relata a sua experiência.

“Este foi um livro que tive de escrever, foi uma forma de assumir o controlo do que aconteceu e de responder à violência com arte”, afirmou Salman Rushdie, citado pelo comunicado da editora, divulgado na quarta-feira.

Segundo o director executivo da Penguin Random House, Nihar Malaviya, Knife é “um livro marcante e uma afirmação do poder das palavras para dar sentido ao impensável”. “Estamos honrados em publicá-lo e impressionados com a determinação de Salman em contar a sua história e regressar ao trabalho que ama.”

Malaviya, citado no comunicado, diz que Rushdie relata os factos “com pormenores marcantes” e descreve Knife como “uma reflexão poderosa, profundamente pessoal e, em última análise, estimulante, sobre a vida, a perda, o amor, o poder da arte, indo ao encontro da força para prosseguir e permanecer firme”.

Rushdie revelara em Junho passado, numa mensagem em vídeo enviada ao festival de literatura Hay, no País de Gales, que estava a escrever um livro de “algumas centenas de páginas” sobre o ataque.

“Não é o livro mais fácil de escrever”, afirmou então Rushdie, como recorda nesta quinta-feira o jornal britânico The Times. “É algo que preciso de fazer para superar [o incidente] e poder avançar para outras coisas. Não posso realmente começar a escrever um romance que não tenha nada que ver com estes factos. Portanto, tenho de lidar com eles.”

O ataque ocorreu mais de 30 anos após Rushdie ter sido alvo de uma fatwa (sentença de morte), decretada pelo antigo líder religioso iraniano ayatollah Ruhollah Khomeini, em 1989, na sequência da publicação do seu quarto romance, Os Versículos Satânicos, uma ficção inspirada na vida do profeta Maomé que lhe valeu o Prémio Whitbread e um lugar entre os finalistas do Prémio Booker desse ano.

Rushdie viveu a década seguinte sob protecção, escondido, experiência que também transportou para o livro de memórias Joseph Anton, de 2012. O título, escreve o jornal norte-americano The New York Times, constitui “o pseudónimo que usou durante esse período, [e que compreende] uma homenagem aos escritores Joseph Conrad e Anton Tchekhov”.

Defensor activo da liberdade de expressão, Rushdie chegou a ser presidente da PEN America, organização sem fins lucrativos que trabalha na consciencialização para a importância da defesa do discurso livre.

Salman Rushdie é autor de Os Filhos da Meia-Noite, romance que lhe deu o Prémio Booker em 1981, o Booker dos Bookers em 1993 e, em 2008, a distinção de Melhor do Booker.

Vergonha; Harum e o Mar de Histórias; O Último Suspiro do Mouro; O Chão que Ela Pisa; Oriente, Ocidente; Fúria; Pisar o Risco; Shalimar, o Palhaço; A Feiticeira de Florença; Dois Anos, Oito Meses e Vinte e Oito Noites; e Grimus, com que Rushdie se estreou nas letras, em 1975, são outros títulos do escritor.

O seu romance mais recente, Cidade da Vitória, concluído um mês antes do ataque, chegou às livrarias portuguesas em Setembro, cinco meses depois do livro de ensaios Linguagens da Verdade. Ambos têm a chancela da Dom Quixote, que publica o autor em Portugal.

O autor foi a figura da mais recente capa do suplemento Ípsilon (edição de 6 de Outubro). Numa entrevista dada por email a Isabel Lucas, Rushdie foi, escreveu a jornalista, “evasivo em relação às consequências do ataque” de Agosto do ano passado. A conversa centrou-se, sobretudo, em Cidade da Vitória.

“Estou a escrever sobre o que aconteceu e espero que o livro esteja pronto em breve. Mas fiquei muito satisfeito com o facto de Cidade da Vitória ter ficado pronto antes do ataque, por me permitir voltar a entrar numa conversa literária e não me limitar a falar apenas de ter sido atacado. A altura certa para o fazer será quando acabar de escrever sobre o assunto”, disse Rushdie.

Questionado sobre aquilo que o levou a querer escrever sobre o incidente, respondeu: “Pareceu-me necessário responder da forma que melhor sei: escrevendo. Além disso, senti que não podia escrever mais nada enquanto não tivesse resolvido esta questão.”

O escritor vai estar na próxima Feira do Livro de Frankfurt. A 21 de Outubro, num evento público, falará sobre Cidade da Vitória. E no dia seguinte receberá o Prémio da Paz dos Editores e Livreiros Alemães 2023.

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