Eficácia e adaptação

Uma vitória contra Fiji neste domingo seria muito bom: para além de ser a primeira em Mundiais, tirar-nos-ia do último lugar do grupo e, mais importante, retiraria a imagem de simpática equipa que faz coisas muito interessantes e de que os espectadores gostam, mas que não passa disso: um râguebi simpático, entusiasmante, agradável de ver, mas que não é vencedor. Ganhar seria óptimo! Mas nada fácil.

A equipa fijiana tem uma compleição física muito elevada (566 Kg/m de compacticidade média contra 526 Kg/m dos portugueses), tem jogadores muito rápidos e a sua capacidade de choque é reconhecida como bastante elevada - o que significa que vai haver da parte dos “lobos” um enorme desgaste para os conseguir impedir de quebrar a linha. Ou seja: a defesa portuguesa pode ser levada a necessidades de oposição directa que ultrapassem as suas capacidades físicas. E aí… Fiji entrará no domínio do jogo.

Porque a Fiji, para realizar o sonho que a realidade da vitória sobre a Austrália transformou em possibilidade, basta-lhe um ponto. Ou seja: se não puder ser a vitória que seja um ponto de bónus defensivo que os quartos-de-final ficarão garantidos. E assim, na procura de um ponto os fijianos entrarão a todo o vapor procurando conseguir pontos quanto antes que lhes evite qualquer dissabor.

As duas equipas parecem próximas se olharmos para as estatísticas conseguidas nos jogos deste Mundial 2023 e, mesmo com um valor de 100% de conquista nas formações-ordenadas, a área da conquista não está muito distanciada, mas é de novo na área da eficácia que as diferenças se fazem notar. Portugal é nitidamente mais fraco do que Fiji na capacidade de marcar. E é isso que aos “lobos” tem feito parecer e não ser. Parece que podem ganhar, mas não ganham.

E como poderiam ganhar? Partindo do princípio que para estar numa fase final de um Mundial é necessário possuir atributos mínimos que podem fazer com que uma equipa se supere desde que tenha tido a organização estratégica necessária para poder adaptar-se, com as tácticas adequadas, aos desafios que lhe são colocadas, uma vitória sobre adversários de relativa proximidade é sempre possível. Havendo um objectivo de aproveitamento colectivo — cultura táctica comum — de qualquer oportunidade.

Portanto, jogar ao largo? Sim, desde que haja manobras que impeçam o deslizar dos defensores — o que implicará linhas de corrida convergentes e entradas por dentro, e um jogo ao pé consistente e conquistador porque, contra os fijianos, não parece conveniente que se lhes entregue a bola para os convidar a subir para serem apanhados ainda atrás da grande maioria dos seus jogadores… assim, chutar pelo seguro para o espaço vazio, obrigando defensores a perseguir a bola para acabar numa conquista de terreno objectiva. E se esta invasão de território for possível por bem executada, os fijianos passarão por trabalhos que poderão torná-los inseguros. Insegurança que poderá levá-los a cometer erros ou a correr riscos demasiado elevados.

Portanto se, teoricamente, e apesar da maior capacidade de colisão dos fijianos, não haverá razões para dificuldades na conquista - embora estejamos com muito fraca média de reciclagem da bola (4,10s) nos rucks, o que pode permitir turnovers - teremos de ter movimentos e circulações da bola mais surpreendentes, aparecendo Marta e Storti mais vezes em sítios inesperados.

Um pedido fica aos "lobos": mais do que bonitos a jogar, sejam eficazes, adaptem-se ao que surge e forcem o adversário ao erro pela surpresa, variando o movimento entre a circulação e o jogo ao pé, retirando à-vontade e confiança ao adversário. Assim serão mais do que uma equipa simpática e generosa e ganharão o respeito competitivo de adeptos e adversários.

Surpreendam-nos com a eficácia e a adaptação!

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