Moderar as exigências

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Os “lobos” têm neste domingo contra a Austrália um jogo de grande dificuldade. Embora não tenha estado no seu melhor - ocupa o 10º lugar, o seu pior de sempre no ranking da World Rugby - a Austrália continua a ser um dos grandes do râguebi mundial e, embora seja uma equipa internacionalmente inexperiente (396 internacionalizações contra 430 dos jogadores portugueses) tem os hábitos competitivos necessários para se impor contra as equipas, como é o caso, do Tier 2. Lembre-se que Portugal jogou, na preparação deste Mundial, no final de Agosto, contra a Austrália A, equipa que não apresentou nenhum jogador que forma a selecção que está no Mundial, e perdeu por 30-17. E a Austrália que Portugal defronta neste domingo, derrotou a Geórgia, por 35-15. Portanto, nada de optimismos exagerados e não exijamos aos “lobos” resultados que só muito casualmente conseguirão atingir. Seria muito bom acontecer uma vitória, mas não é lógico considerá-la, como vem acontecendo, uma probabilidade.

Possível é, estamos no campo do desporto, na disputa de um Mundial da modalidade e onde o surpreendente será vencedores antecipados ou desequilíbrios tais - como já aconteceram - que mostrem objectivamente que a organização internacional está muito desfasada para aumentar os objectivos de equilíbrio desejáveis.

E a World Rugby vem demonstrar a sua falta de atenção e respeito ao nomear - mais uma vez, esquecendo as obrigações da mulher de César e sob o manto do “no râguebi somos diferentes” - o árbitro georgiano, Nika Amashukeli (um bom árbitro e que não tem nenhuma culpa no assunto) para arbitrar este jogo do grupo onde portugueses e georgianos conflituam.

Veja-se: quando Portugal entrar em campo já saberá da importância do resultado do seu jogo para a classificação final - nenhuma, se Fiji vencer com ponto de bónus; muito grande se Fiji apenas vencer, abrindo uma porta para a decisão final no jogo entre Fiji e Portugal.

No entanto há aqui a questão do prestígio das duas equipas europeias que pretendem evitar o último lugar do grupo. E isso pode passar, encontrando-se, antes da quarta jornada, igualadas na diferença negativa dos marcados/sofridos e com a vantagem de um ensaio para os georgianos, pelo controlo dos resultados e pela possibilidade de pontos de bónus defensivos.

Conhecida, repete-se, a situação em que se encontrará a Geórgia antes de iniciar o jogo Austrália-Portugal as decisões do árbitro georgiano podem ser olhadas como defensoras do interesse georgiano. E isto não se faz! Não se coloca em causa a integridade de um árbitro por erro de perspectiva, desatenção, falta de respeito ou ignorância pura e simples das mais elementares regras de equidade desportiva.

Pode ser que os “lobos” tenham a oportunidade de marcar os ensaios necessários para fugirem ao último lugar. E se a situação se proporcionar, devem fazê-lo desde a entrada em campo - tudo fazerem para garantir que o resultado, que o algoritmo utilizado no “XV contra XV” indica ser favorável aos australianos por 14 pontos de diferença, seja, no final, adequado aos seus objectivos.

Para isso e para que se possa ver uma agradável expressão do râguebi português, os “lobos” terão que manter a sua confiança no jogo de movimento, utilizando a sua capacidade de jogo de passes, procurando ultrapassar a linha de vantagem e garantindo o apoio adequado para que o tempo de reciclagem seja curto e em tempo útil e utilizando eficazmente o jogo ao pé.

As vantagens pertencem obviamente aos australianos, mas os lobos”, conseguindo o resultado que lhes interessa e, repete-se, mostrando as reconhecidas qualidades do seu jogo, podem sair do campo com satisfação. E nós, espectadores, ao não lhes exigirmos tarefas que ultrapassam a sua condição, sairemos também com satisfação e orgulho pelo comportamento dos nossos “lobos”.

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